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Dom João Carlos Seneme

Jesus, semente de vida eterna, veio habitar entre nós

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É a primeira vez no Evangelho de Mateus que Jesus ensina usando parábola. É uma novidade para os discípulos, por isso eles estão confusos. A intenção de Jesus é falar às multidões e a parábola é uma linguagem simples que atinge a todos. O tema é o mistério da acolhida ou rejeição da palavra de Deus. O jeito simples e direto de Jesus toca o coração e conduz à conversão

A parábola do semeador reflete a situação de resistência de alguns e a indecisão de outros diante da proposta do Reino apresentada por Jesus. Quem não quer aceitar, se nega a compreender. Os discípulos são iniciados neste mistério de Deus, ao compreender e aceitar estão entrando no reino de Deus. O clima é desafiador devido ao confronto com os judeus apresentados nos capítulos anteriores e a recusa por parte dos conterrâneos de Jesus. Deste modo se esclarece e aprofunda a distinção já acenada entre os discípulos e a multidão: a ela Jesus fala em parábolas, a eles revela abertamente os mistérios do reino. O critério para a distinção entre os dois grupos é a escuta da Palavra, o conhecimento dos mistérios do reino (= relação pessoal com Jesus).

O início do relato coloca Jesus saindo de casa e sentando-se à beira-mar (trata-se do lago de Genesaré, também chamado de Mar da Galileia) para ensinar. Jesus deixa a intimidade de sua casa, lugar reservado para as explicações oferecidas aos discípulos, e se coloca diante da multidão.

A imagem do semeador refere-se à ação de Deus que intervém com a promessa cheia de esperança em tempos de crise de seu povo. O plantio exige paciência e perseverança e muito esforço. A intenção do semeador é recolher muitos frutos com seu árduo trabalho. Vemos que o nosso semeador não é muito prático e habilidoso. Ele joga a semente em todos os lugares sem muito critério: beira do caminho, terreno cheio de pedras, no meio de espinhos e, finalmente, terra boa. Isto tudo para dizer que Deus oferece a sua Palavra a todos, sem distinção, e espera pacientemente que a acolhamos como terra boa, adubada e produzamos frutos abundantemente.

A parábola, portanto, refere-se às diferentes reações diante da palavra de Jesus e sua missão. É bem possível que exista um contexto de crise entre os seguidores de Jesus: desânimo, desconfiança, o resultado não é o esperado porque muitos abandonam o projeto do Reino de Deus. Diante disto, Jesus diz aos discípulos desiludidos: “coragem”. Não desanimem. Pode existir um aparente fracasso, mas o resultado final será surpreendente e maravilhoso: “outras caíram em terra boa e produziram frutos, uma cem, outra sessenta, outra trinta. Quem tem ouvidos, ouça!”.

Jesus nos convida a não nos fecharmos em nós mesmos. Temos que aprender a ler e compreender os acontecimentos à luz do Reino de Deus, que o próprio Jesus semeou na história. É um convite a abrir os olhos e assumir um olhar atento e penetrante que é capaz de descobrir o fermento e a alegria da vida no terreno acidentado da história.

 

Bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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