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Tarcísio Vanderlinde

Katharina, a “Estrela D’alva”

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Katharina Von Bora veio de uma família de origem nobre.Contudo, à época que nasceu, sua família já se arruinara economicamente. Para agravar a situação, a menina ficou órfã de mãe muito cedo. Com o intuito de garantir sua sobrevivência, o pai a colocou num convento. Ali haveria alguém que a cuidasse e a educasse.

Katharina teve acesso a textos de Martinho Lutero ainda no convento. É bastante conhecido o episódio de que ela e algumas colegas abandonaram o mosteiro motivadas por acontecimentos que vieram a ser conhecidos posteriormente como o Movimento da Reforma.

Lutero e Katharina estiveram casados por 21 anos. Após a morte de Lutero a situação de Katharina tornou-se dramática. Teve que empreender e usar criatividade para se manter com os filhos que ainda estavam sob sua guarda. Segundo Martin Dreher, o matrimônio de Lutero e Katharina não somente marcou o nascimento da casa pastoral luterana; foi também o início da história de desamparo das viúvas de pastores, que perdurou por longa data.

Katharina viveu poucos anos após a morte do marido ocorrida aos 62 anos, motivada possivelmente por um enfarte no ano de 1546. Ela veio a falecer em 1552 por complicações decorrentes de um acidente quando viajava para a cidade de Torgau. Contava com 53 anos.

Conta-se que além de chamá-la Käthe, Lutero designava a esposa de “Domina”, título reservado às abadessas. Ela de fato administrava o mosteiro onde moravam, organizou a vida do marido que, segundo consta, era totalmente incapaz de organizar qualquer detalhe de uma economia doméstica. Dreher observa que Katharina literalmente colocou ordem na vida de Lutero.

O mosteiro agostiniano onde morava a família foi transformado em pensão e em hospedaria, na qual também se alojavam nobres. Além disso, Katharina tinha criação de gado, arrendou terra, mais tarde adquiriu uma chácara, abrigando cerca de 30 pessoas entre hóspedes, estudantes, empregados, filhos e filhos de parentes.

O mosteiro já era moradia de Lutero desde 1524. Em 1532 tornou-se sua propriedade por doação do príncipe Frederico, o Sábio. Era uma construção inadequada para uma moradia de família. As melhorias foram orientadas por Katharina.

As atividades empreendidas por Katharina foram essenciais para equilibrar o orçamento doméstico. Não sobrava muito tempo para leituras. Levantava às quatro horas para dar conta do serviço e com isso possibilitar que Lutero pudesse se dedicar ao seu ofício de teólogo e professor. Somos da opinião de que o hábito de pegar cedo no batente tenha levado Lutero a chamar Katharina de “Estrela d’alva”. Mas pode haver outras interpretações.

Em biografia sobre a vida de Katharina, Heloisa Dalferth observa que as responsabilidades do casal eram bastante definidas, contudo, além de cuidar dos serviços domésticos, Katharina emitia opiniões sobre as questões que envolviam mais diretamente as atividades do marido. 

Considerando os escritos de Lutero, o que se sabe sobre Katharina não passa de um rodapé. A história da esposa de Lutero ainda é um campo aberto à investigação. Ao visitarmos o mosteiro em Wittenberg, onde viveu a família, foi possível constatar o reconhecimento do reformador sobre a importância do papel da esposa nos eventos que culminaram com a Reforma Protestante.

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