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Que país é esse? – Por José Alberto Dietrich Filho

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Parece um filme de horror. É normal que a História dê as suas reviravoltas depois de alguns séculos. Neste caso estão manchando algumas folhas dos livros de História enquanto a História acontece.
É um sarcasmo on-line, ao vivo, lembrando hienas africanas manchadas de sangue e rindo das suas vítimas.
Todos sabem que a Operação Lava Jato comprovou um dos maiores assaltos aos cofres públicos do Brasil, sem precedentes no mundo.
Foram bilhões em dinheiro vivo apreendidos, escondidos em paredes falsas, malas, cuecas etc.
Dezenas de políticos, funcionários públicos e empreiteiros apanhados em flagrante e confessando as falcatruas. E aceitando devolver grande parte do dinheiro roubado em troca da redução de suas penas.
Tudo comprovado e julgado por nove juízes (um da primeira instância, três da segunda instância e um colegiado de cinco juízes do STJ).
Num cenário desses jamais se pensou que alguém pudesse ver matéria constitucional nessa roubalheira a ponto de fazer os recursos chegarem ao tribunal chamado de “guardião da Constituição”, onde estavam, e ainda estão, alguns membros escolhidos a dedo e nomeados por dois ex-presidentes da República cujos companheiros estavam todos presos e condenados.
Acabaram conseguindo e os processos chegaram ao ponto supremo da pirâmide judiciária. Mas a lógica era que todas as sentenças fossem mantidas, porque as provas eram e são irrefutáveis.
Em seguida abriram-se as cortinas do picadeiro e apareceu um imenso trapézio montado. Não se imaginava que aqueles senhores e senhoras vitaliciamente nomeados, quase todos já idosos e vestindo longas e pesadas capas pretas (simbolizando integridade moral e imparcialidade), fossem capazes de subir naquelas cordas.
Pois subiram todos. E não só subiram, como fizeram várias piruetas. Alguns deles chegaram a fazer o famoso salto triplo carpado. A plateia ficou muda e assim permanece.
Os processos foram anulados e mandaram soltar todos os presos confessos, inclusive o ex-presidente que os havia nomeado. Como toda série dramática, o capítulo que está no ar agora parece ser o mais cômico: o Ministério público federal processando a União (que somos todos nós) por danos morais causados à democracia. Parece, mas não é piada.
As falcatruas descobertas, o dinheiro roubado e parcialmente recuperado, as confissões, os prejuízos gigantescos causados à Petrobras, ao BNDES e à própria União, desapareceram como num passe de mágica.
E agora surge a ideia de que tudo isso prejudicou a democracia. A sensação é que estamos num trem fantasma da Disney. E a plateia continua muda, não querendo acreditar no que está assistindo.

*O autor é advogado

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