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Elio Migliorança

BRASIL SOBRE RODAS

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A greve dos caminhoneiros está parando o Brasil e fazendo cair a máscara que escondia as mentiras oficiais dizendo que o Brasil estava muito bem e que éramos a 8ª economia mundial. O grau de revolta é tal que fica difícil dialogar com quem quer que seja. Os nervos estão à flor da pele e qualquer faísca pode desencadear um incêndio de consequências incalculáveis. Os caminhoneiros estão no limite da resistência, esmagados por impostos abusivos, as estradas em situação precária, os custos do óleo diesel, pneus e peças consomem quase todo o fruto do seu trabalho, pouco sobrando para sustentar a família. É uma situação desesperadora. Ponto para os caminhoneiros. Estão enfrentando corajosamente o desafio de ajudar a passar este país a limpo. Tudo isso nos remete a uma reflexão sobre o que os governos fizeram nas últimas décadas para nos conduzir a uma situação destas. Primeiro ponto: quando falta dinheiro para contas mal administradas, corrupção e nomeações de amigos e apadrinhados políticos aos milhares, o jeito é arrecadar mais aumentando impostos sobre produtos de primeira necessidade, e um deles é o combustível. É por isso que temos o combustível mais caro do mundo. Ironia do destino, enquanto muita gente faz piada com nossos vizinhos paraguaios, é bom saber que desde que o petróleo no mercado mundial caiu de US$ 150 para US$ 50 o barril, a gasolina no Paraguai já baixou de preço 8 vezes, já aqui a única coisa que baixa é a moral dos governos, os preços nunca. Segundo ponto: sucessivos governos investiram no transporte rodoviário sem levar em conta que os países de primeiro mundo investem em transportes mais econômicos e eficientes, como o ferroviário e hidroviário. Nos Estados Unidos, 42,8% das cargas são transportadas por ferrovia. Hidrovias e dutos transportam outros 30% dos produtos. Restam assim 27,2% para o transporte rodoviário e aéreo. No Brasil temos o inverso. Em torno de 70% do transporte é rodoviário. Segundo o professor Paulo Fleury, do Centro de Estudos em Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o caminhão é meio de transporte ideal para trechos de até 600 quilômetros. Temos que levar em conta que a construção desta armadilha que nos conduz a um equivocado planejamento estratégico, é resultado do lobby dos fabricantes de caminhões, peças e pneus, e das forças sindicais que comandam este governo. A nós sobra o pagamento desta conta. As ofertas feitas pelo governo decepcionaram os caminhoneiros, pois elas não resolvem, apenas transferem o problema. Simples assim. Nós estamos aqui no meio do tiroteio, com prejuízo, mas apoiando os caminhoneiros, pois sua luta é legítima já que o governo só está preocupado consigo mesmo, a corrupção se transformou em política de governo e só com enfrentamento está sendo possível mostrar a nossa força. Passado o tempo em que os otários de plantão legalizaram com seu voto o festival de mentiras e estatísticas fraudadas que mostravam o Brasil a um passo do paraíso, chegou a hora da fatídica verdade em que os brasileiros estão revelando seu estado de espírito e tentando dar o primeiro passo para acabar de vez com o cinismo sem limites dos governantes e fazer com que boa parte da imprensa domesticada, mostre o estado de falência em que se encontram os filhos desta mãe chamada “pátria brasileira”.

 

* O autor é professor em Nova Santa Rosa

 

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