Fale com a gente

Elio Migliorança

PLANTADOR DE SOJA NÃO PODE

Publicado

em

Amanhecia o dia 1º de julho e muitos consumidores de energia elétrica acordaram cedo para participar de um programa que parecia ser sério e vantajoso. A imprensa noticiava o início do programa da troca de geladeiras com 45% de desconto, um programa do Governo do Paraná em parceria com a Companhia Paranaense de Energia (Copel). Como muitos outros, um agricultor de Nova Santa Rosa, cuja geladeira tem 25 anos de uso, levantou cedo, tratou os animais e foi com a esposa para Marechal Cândido Rondon, na lojas Colombo, afim de inscrever-se no programa. Ao ser atendido, foi-lhe pedida uma fatura de energia elétrica. Voltou para casa buscar a fatura de energia. Chegando à loja, foi informado que devia dirigir-se ao escritório da Copel para atualização do cadastro. Lá chegando, o atendente olhou a fatura e disse que ele não podia participar do programa por ser “plantador de soja”, que é o que consta na fatura de energia. Revoltado por sentir-se enganado, retornou e entrou em contato comigo questionando a matéria da página 09 do jornal “O Presente” daquele dia, a qual, segundo ele, fazia propaganda enganosa, pois noticiava o programa e quem se enquadrava nele. Como há um compromisso deste diário com a verdade, entrei em contato com o departamento de jornalismo para saber a fonte utilizada para produzir aquela matéria. Informaram-me que a fonte foi o portal do Governo do Estado, a Agência de Notícias do Paraná de 30 de junho. Fui ao portal e verifiquei que de fato constam lá as regras de participação no programa de troca de geladeiras. As regras são claras: “O projeto é destinado aos consumidores residenciais, tanto da área urbana como da rural. Para participar é necessário estar em dia com o pagamento das faturas da Copel e possuir uma geladeira com pelo menos cinco anos de uso e em funcionamento. Para comprar basta que o titular da conta de luz compareça a uma loja Colombo munido de uma conta de luz em seu nome”. Em nenhum lugar do regulamento consta que plantador de soja, milho, amendoim, mandioca ou cocô de vaca esteja excluído do programa. Informei ao agricultor em questão que a propaganda enganosa não era do Jornal O Presente, pois este havia apenas publicado matéria do portal do Governo do Estado.

O agricultor contou que encontrou outros que haviam sido despedidos pela Copel com o mesmo argumento. Fiquei pasmo ao descobrir que a soja foi criminalizada e que um agricultor que planta dois alqueires de soja, que luta dia e noite para sobreviver na atividade, pagador de seus impostos com os quais os governantes ficam fazendo politicagem, na hora de ter um pequeno benefício é tratado como se marginal fosse, cujo crime é ser plantador de soja. Ou devia ele parar de cultivar a terra e viver da bolsa família?

Outro absurdo foi descobrir que a Copel vai subsidiar apenas 12 mil geladeiras em 2015, e como tem no Paraná mais de quatro milhões de consumidores, vai levar mais de 333 anos para atingir a todos. Parabéns governador por mais este golpe contra os agricultores, e se não for verdade que plantador de soja não pode participar, alguém tem que ser responsabilizado por isso, pois o povo não pode ser tratado como bobo, impunemente. Se for fazer um programa destes, faça bem feito ou então é melhor não fazer.

 

 

* O autor é professor em Nova Santa Rosa

 

miglioranza@opcaonet.com.br

 

 

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente