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Elio Migliorança

DA OMISSÃO À MORTE E DESTRUIÇÃO

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No dia 29 passado começou na Alemanha o julgamento de Hubert Zafke, ex-paramédico das SS nazistas que trabalhou no campo de concentração de Auschwitz, acusado de ser cúmplice no assassinato de milhares de pessoas. Detalhe: Hubert tem 95 anos. O julgamento de um criminoso de guerra com esta idade é pedagógico. A idade avançada não exime da responsabilidade aquele que privou alguém do direito à vida. Ao mesmo tempo em que acontece este julgamento, a Europa tem centenas de milhares de pessoas batendo à sua porta e pedindo misericórdia e um pedaço de pão. São os fugitivos de outras guerras, expulsos de sua pátria por conta da tirania de governos, cujo projeto é manter o poder a qualquer custo.

Isso nos remete ao início dos conflitos na Síria do ditador Bashar El Assad, quando o governo começou a apontar suas armas contra a população civil do país. A Organização das Nações Unidas (ONU), criada para agir quando a paz mundial estiver em risco ou então para agir em defesa dos oprimidos, perseguidos ou assassinados, fez de conta que o assunto não lhe dizia respeito. Questionados, os líderes das maiores potências mundiais responderam que esta é uma questão de “autodeterminação dos povos”. Para que se entenda o que isto significa, autodeterminação dos povos é o princípio que garante a todo povo de um país o direito de se autogovernar, realizar suas escolhas sem intervenção externa, exercendo soberanamente o direito de determinar o próprio estatuto político. O que acontecia de fato não era uma questão de escolha popular sobre regime de governo ou organização interna e sim uma guerra sangrenta de um governo que colocava seu exército contra a população civil. Os desdobramentos do conflito estão tirando o sono de europeus e americanos. Novas cortinas de ferro estão sendo levantadas nas fronteiras dos países para impedir uma invasão de multidões, cujo único clamor é por salvar sua vida e conseguir um prato de comida para si e seus filhos. É possível a alguém que tenha sentimentos dormir com um barulho destes?

Agora tudo faz sentido. Os alemães não querem deixar passar impune um criminoso de guerra nazista. Mas e os poderosos que podiam e não fizeram nada na situação atual, não são culpados de nada?

Agora façamos um passeio pela América do Sul e uma breve análise da situação caótica em que se encontra a Venezuela. Nada se podia fazer para evitar a destruição da economia do país que provocou fome e miséria entre a população? Como se pode ver, a omissão pode provocar morte e destruição. Mas, voltemos para casa e olhemos o Brasil, que também está caminhando ladeira abaixo. As previsões são sombrias e a economia está se deteriorando. A quem nós estamos apoiando? Defendendo os corruptos que roubaram milhões ou apoiando aquela parcela da Justiça que funciona e que está prendendo os peixes graúdos, desmontando o maior esquema de corrupção da história do país? Temos consciência de quantas pessoas morrem por conta dos recursos desviados e que faltam para segurança, saúde e saneamento básico no país? Alguém tem coragem ainda de fornecer notas frias para ajudar a desviar recursos públicos?

Das nossas respostas e atitudes pode depender a vida de muitos seres humanos.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

 

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