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O novo alvo da criminalidade em Marechal Rondon

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Em menos de dez dias, três ocorrências de assaltos a carrinhos de lanches foram registradas em Marechal Rondon. Enquanto o medo e a insegurança assombram os vendedores, Polícia Militar afirma que policiamento está sendo reforçado

Impotência e insegurança total. É a sensação descrita por uma vendedora de cachorro-quente em Marechal Cândido Rondon, após as últimas ocorrências de assaltos a carrinhos de cachorro-quente na cidade. Proprietária de uma barraquinha de lanches há 11 anos, a vendedora foi vítima de assalto na noite do último dia 13. Segundo ela, durante todo este tempo sempre trabalhou no mesmo lugar e, até então, nunca havia sido assaltada. “Nós que trabalhamos com este tipo de venda, exclusivamente à noite, estamos expostos, não podemos fazer nada. Não temos como nos defender”, declarou ao O Presente a vendedora, que preferiu não se identificar.

O assalto foi praticado por três jovens, por volta das 21 horas, e, segundo a rondonense, aparentemente seria uma venda normal. “Dois deles ficaram parados do outro lado da rua enquanto que o terceiro veio até a barraquinha e fez o pedido de três lanches. Alguns minutos depois, os outros dois jovens se aproximaram e então anunciaram o assalto”, conta a vendedora, relatando que os assaltantes fizeram menção de estarem armados.

Os três jovens fugiram a pé com os lanches, porém a vendedora conseguiu avisar uma equipe da Polícia Militar que passava pelo local naquele momento. Os policiais conseguiram abordar os ladrões cerca de uma quadra do local do roubo. Na esquina da rua onde aconteceu a abordagem os policiais encontraram os lanches roubados e um simulacro de arma de fogo. Os autores do roubo, com idade entre 14 e 17 anos, foram apreendidos. “Se a polícia não estivesse passando no local naquele momento os ladrões teriam levado mais coisas. Eles ainda tentaram roubar a nossa televisão, mas fugiram quando viram que a polícia estava vindo”, lembra a vendedora.

Por outo lado, segundo ela, o que permanece da situação não é o prejuízo financeiro, mas sim o susto e o medo. “Eles levaram R$ 33 em lanches, mas isso não é o principal problema. Estamos assustados e com medo, no entanto precisamos trabalhar. Esperamos que isso nunca mais aconteça”, ressalta.

 

Sequência de assaltos

O caso citado foi o primeiro assalto a carrinho de cachorro- quente registrado neste ano em Marechal Rondon. Contudo, os criminosos parecem ter escolhido os seus novos alvos e a sequência de assaltos a este público teve continuidade. No último dia 17, mais um vendedor foi vítima de assaltantes. Conforme informa o vendedor, ele teria sido abordado por um elemento armado com faca, o qual era moreno, tinha estatura mediana e trajava calça, chinelo e um casaco xadrez. Depois de roubar R$ 600 em dinheiro, o homem embarcou em uma motocicleta e fugiu.

O terceiro assalto foi registrado na noite do último domingo (21), na Avenida Rio Grande do Sul, no centro da cidade. Desta vez, o ladrão, armado com uma faca, exigiu que o vendedor entregasse o dinheiro do caixa e em seguida fugiu com uma motocicleta modelo CG, de cor vermelha, que estava com a placa encoberta por um pano.

 

Insegurança

O medo e a insegurança não afetaram apenas aqueles que foram alvos dos ladrões. Uma outra vendedora de cachorro-quente relatou à reportagem que dos três assaltos, dois ocorreram próximo ao seu local de vendas. “Trabalho vendendo lanches há 18 anos, sempre no mesmo local, e nunca fui assaltada, porém, nos últimos dias, o medo e a preocupação estão predominando, pois não sei o que pode acontecer”, menciona.

Buscando a prevenção de assaltos, a vendedora tomou algumas medidas, como, por exemplo, diminuiu a quantidade de dinheiro em caixa e adotou um horário de trabalho diferenciado. “Trabalho das 19h30 às 22h30. Tenho duas crianças pequenas que estudam pela manhã e eu preciso levantar com elas, então não fico até tarde”, comenta.

Ela entende que não é preciso ficar ao longo na madrugada na rua, visto que, além de ser perigoso, gera transtornos. “Quem quer comer um lanche vem até umas 23 horas pelo menos, após esse horário só haverá incômodo e perigo para os vendedores”, opina.

 

Investigações

Conforme o comandante da 2ª Companhia de Polícia Militar (PM) de Marechal Cândido Rondon, capitão Valmir de Souza, a polícia já possui alguns suspeitos da prática dos roubos e segue em contato constante com a Delegacia de Polícia Civil para identificar os responsáveis e realizar a prisão dos mesmos.

Segundo ele, o “modus operandi” verificado nos três assaltos é semelhante e isso indica que os criminosos podem ser de um mesmo grupo. “As informações ainda não são exatas, mas podem ser pessoas de um mesmo grupo ou que estejam relacionadas a associações criminosas”, revela Souza, acrescentando que a polícia está com uma boa linha de investigação e em breve terá mais novidades sobre os casos.

O capitão diz que a motivação deste tipo é roubo é principalmente a compra de drogas ou de bens materiais para os próprios ladrões. “Eles têm informações relacionadas a como os próprios comerciantes agem, até mesmo por conta da facilidade de acesso, já que o trabalho é realizado ao ar livre e isso favorece a prática dos roubos”, enaltece.

 

Policiamento intensificado

De acordo com o comandante da PM, o policiamento em horário noturno é feito constantemente e vem sendo intensificado durante a madrugada, principalmente nas abordagens a suspeitos. “Nos últimos dias realizamos abordagens e apreendemos menores e prendemos adultos com chave micha, usada para arrombar portas e fechaduras, e, posteriormente, constatamos que estas pessoas poderiam estar ligadas a outros crimes na cidade”, expõe.

Souza menciona que a sequência de roubos de um determinado tipo é algo tido como rotina dentro do policiamento. “Os criminosos tendem a realizar um primeiro crime e quando percebem que o mesmo deu certo, eles continuam com as ações até serem confrontados pela polícia. Essas pessoas são presas, mas depois de um tempo, dois ou três saem da cadeia e voltam a cometer crimes e é isso o que estamos percebendo neste momento em Marechal Rondon. Algumas das situações são de criminosos que saíram da cadeia e voltaram a cometer crimes. Infelizmente isso é uma constante no dia a dia da Polícia Militar”, lamenta o comandante.

No primeiro caso de assalto a carrinho de cachorro-quente, os três responsáveis são menores de idade e, consequentemente, não ficarão detidos. Para o capitão, por conta de a legislação brasileira impedir que essas pessoas fiquem presas por um tempo razoável, entende-se que a comunidade espera uma atitude da Polícia Militar. “Todavia, é necessário compreender que com toda a conjuntura da polícia criminal, essas pessoas estarão na rua novamente e muitas vezes perpetrando crimes sem mesmo serem tidas como reincidentes”, informa.

Na opinião de Souza, é necessária uma ampla discussão acerca deste assunto, para que se possa definitivamente buscar uma solução a fim de enfrentar a criminalidade de uma forma veemente.

 

O Presente

Comandante da 2ª Companhia de Polícia Militar de Marechal Rondon, capitão Valmir de Souza: “Nós, enquanto Polícia Militar, precisamos conversar com os comerciantes e procurar nos inteirar do que vem acontecendo para podermos evitar as ações dos criminosos”

 

Trabalho comprometido

A cobrança por mais segurança é uma constante por parte da população rondonense, mas, segundo revela Souza, algumas situações estão comprometendo há algum tempo o trabalho da Polícia Militar no município, e entre elas a principal é a falta de equipamentos. Conforme o capitão, as autoridades superiores já foram alertadas para a necessidade de reforço na questão de equipamentos, além do aporte de mais e melhores condições de trabalho para os policiais de Marechal Rondon. “Estamos buscando reforçar o policiamento, mas a falta de equipamentos não nos permite avançar neste sentido. Muitas vezes as pessoas refutam o trabalho da polícia, por conta da questão do aumento da criminalidade no município, porém não só é necessário um reforço no policiamento, mas também de equipamentos para os policiais. Isso só não trará uma sensação de segurança maior, como efetivamente haverá maior segurança”, assegura o comandante da PM.

Ele enfatiza que há projetos para reativar a Patrulha Comercial no município, no entanto, segundo ele, diante da carência de equipamentos, isso não está sendo possível. “Precisamos que a população compreenda essa questão e nos ajude a pleitear melhores condições de trabalho para a polícia aqui no município”, pontua. “Além disso, nós, enquanto Polícia Militar, precisamos conversar com os comerciantes e procurar nos inteirar do que vem acontecendo para podermos evitar as ações dos criminosos”, completa.

 

Orientações

A principal recomendação da polícia para os vendedores de lanche no período noturno é que adotem medidas de segurança. “O comerciante busca um horário que mais rende para ele, então nós não podemos definir um horário de trabalho específico. A realidade é que temos uma limitação para cobrir toda a malha da cidade, principalmente na questão específica de furtos ou roubos”, declara Souza. “Por outro lado, gostaríamos de dar segurança efetiva para todos, porém, infelizmente, sabemos que isso não é possível, não somente aqui, mas em todos os lugares”, complementa.

Entretanto, o comandante orienta que os comerciantes tenham consigo um telefone celular e mantenham contato com a Polícia Militar, através do 190, quando suspeitarem de algo que ameace a sua segurança ou a de seu comércio. Muitas vezes, pontua o capitão, há um congestionamento nas chamadas ou até mesmo as equipes policias estão empenhadas em outras ocorrências que demandam um tempo de trabalho maior. “Ocorrências de perturbação por som alto e acidentes de trânsito são casos que demandam muito tempo das equipes policiais, sendo que neste mesmo período pode estar ocorrendo algum furto ou roubo em outros locais”, expõe. “Em vista disso, precisamos que as pessoas tenham consciência de ligar para o 190 e acionar a Polícia Militar quando necessário. Entretanto, não sendo atendidos prontamente, os policiais, na medida do possível, irão até o local para averiguar a situação e, desta forma, tentar diminuir a sensação de insegurança dos comerciantes”, ressalta Souza.

Alguns dos vendedores que foram vítimas dos assaltos nos últimos dias optaram, por precaução, fazer a sangria (retirar o dinheiro em excesso do caixa) durante o expediente de trabalho. Contudo, para o comandante da PM, ter menos dinheiro em caixa vai diminuir o prejuízo, mas não evitará a prática do crime. “Os criminosos fazem um estudo antes de praticarem um assalto, então sabem exatamente o local e o horários de trabalho desses vendedores. Ao passo que os horários são alterados, os criminosos também mudam seu ‘modus operandi’ e até o momento de atuação”, alerta.

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