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Terapia de casal resolve?

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Sessões proporcionam um novo olhar para a relação. Na maioria dos casos consegue-se chegar à reconciliação, mas é preciso muito esforço mútuo e reflexão. Falta de diálogo, de sintonia e sobrecarga no trabalho são os principais fatores que levam ao desgaste do casamento e às traições

 

No início era tudo ótimo. Agora as brigas não param, ou pior, o silêncio impera. Parece que o assunto acabou.

Quando as pessoas resolvem morar juntas esperam encontrar no casamento uma espécie de oásis, uma fonte de conforto, um parceiro atento, meigo e compreensivo, além de sexo, muito sexo! Deseja-se apoio, proteção, reconhecimento. No entanto, com o passar do tempo nem tudo sai como o esperado. Casais têm problemas, é fato. Alguns, poucos; outros, nem tanto.

Em muitos casos, o rancor chega ao limite e atrapalha a boa convivência entre os parceiros. Quando não se enxerga uma saída, pode ser a hora de procurar uma terapia de casal. Isso mesmo: terapia de casal.

Até pouco tempo atrás ela era desconhecida e sofria um certo preconceito; hoje está em alta e virou a queridinha dos consultórios.

 

PROBLEMAS VARIADOS

De acordo com a psicóloga rondonense Carina Frank, os problemas que levam um casal à terapia são muito variados. Geralmente há um processo conflituoso ou o casal acredita que está acabando o amor. A relação se torna doente e eles não conseguem mais se entender, expõe. Segundo ela, a maioria dos casais que busca terapia deseja refazer o relacionamento que está destruído por alguma razão. Normalmente não sabem ao certo o que levou ao desgaste, não sabem especificamente onde falharam. Mas nenhum aceita a culpa. A tendência sempre é de projetar para o outro. Em 95% dos casais um vê o defeito do outro, mas não vê o próprio defeito, comenta.

Conforme a profissional, os casais têm dificuldade de assumir que enfrentam problemas. A maioria quer ostentar um perfil que precisa exibir à sociedade, menciona, acrescentando: Na nossa região as pessoas precisam viver de aparência o tempo todo. Em uma cidade maior você não observa isso tão intensamente; se você sair sozinho para jantar ou com os amigos tudo bem. Aqui, não. Se você sair sozinho precisa dar explicação para todo mundo que encontrar.

 

PRIMEIRO PASSO

O primeiro passo em uma terapia de casal, explica a psicóloga, é identificar os conflitos. Busca-se saber o que está levando o casal a não estar mais satisfeito em seu relacionamento. Partindo desse pressuposto vou saber se é um problema pessoal ou se realmente é do casal, relata.

Quando as questões pessoais estão influenciando a relação, a profissional explica que num primeiro momento separa o casal e atende o homem e a mulher individualmente. Depois faço as sessões com os dois juntos, ocasião em que vão expor as situações deles, pontua.

 

RECOMEÇO

A rondonense diz que trabalha a terapia de casal como um recomeço, indiferente se o relacionamento tem 15 ou dois anos, por exemplo. Uso métodos e técnicas, mas os casais têm que se esforçar muito pelo relacionamento. Precisam expor as situações, discutir e refletir. A partir da terapia eles terão um novo olhar para o parceiro e para a relação como um todo. Vão descobrir que os dois têm papéis a desempenhar e que ninguém pode ser vítima de nada, frisa. Eles saem das sessões sabendo que não é só um que está errando, mesmo em casos de traição, acrescenta, informando que uma terapia de casal pode durar em média 12 sessões ou três meses.

 

CASOS SIMPLES E COMPLEXOS

No consultório, Carina conta que atende tanto casos simples como complexos. Há casais com um relacionamento conflituoso, mas com características simples de serem resolvidas. Com duas ou três sessões é possível dar outra visão para o casal e eles se entendem. Por outro lado, há aqueles com aspectos intrínsecos, ou seja, não une só a relação e a dificuldade diante dos conflitos pertinentes à situação matrimonial. Nestes casos há questões pessoais envolvidas, frutos de outros problemas, como o alcoolismo, por exemplo, detalha.

Ela afirma que a maioria dos atendimentos são de casos complexos. A maior parte dos relacionamentos são de pessoas adictas, normalmente de drogas mais pesadas ou álcool, ou de pessoas que traíram, revela.

 

DIÁLOGO É FUNDAMENTAL

Uma das orientações que Carina faz nas sessões de terapia de casal refere-se à necessidade de diálogo. Ele faz toda a diferença em todos os sentidos. Não tem como adivinhar o que o outro está pensando. Nas sessões ensino o homem a pensar como mulher e a mulher a pensar como homem. Entre as muitas técnicas que utilizo, esse é um dos procedimentos que tem dado muito certo, enaltece.

Ela destaca que é de suma importância colocar em prática a famosa DR (discussão da relação). Infelizmente as pessoas deixam para discutir quando estão no estágio máximo de estresse. Elas vão tolerando tudo, chegam ao limite e só então colocam para fora. Isso é o maior erro dos casais, analisa.

A psicóloga ressalta que todo e qualquer conflito que o casal tem vai interferir diretamente nas questões sexuais. E pessoas não realizadas sexualmente buscam fora do casamento. Aí vem a traição, alerta.

Ela chama a atenção para algo muito comum nos relacionamentos. A mulher, se está cansada, não aprendeu que sexo é para relaxar. Ela acha que vai dar trabalho e faz por fazer, como um compromisso. E a maioria não tem orgasmo. O homem não é assim, não vê o sexo desta forma, e é aí que começam as diferenças, observa.

Se o homem não tem sexo em casa, a profissional diz que ele vai buscar fora do casamento. Ele vai procurar mecanismos e para ele é muito fácil. Tem muita mulher disponível por aí, inclusive dando em cima. Muitas meninas mais novas até preferem homens casados, que as sustentem, assim elas têm dinheiro e a liberdade de sair com outros. Isso é o histórico do mundo moderno, apresenta.

 

FALTA DE SINTONIA

Outro ponto que interfere bastante em uma relação é a sobrecarga de trabalho, a qual pode resultar, muitas vezes, na falta de sintonia do casal. O casal está vivendo super bem e planeja um filho. De repente a criança nasce e a mulher começa a se dedicar mais ao bebê, deixando o marido de lado. Isso vai interferir diretamente no relacionamento. Há situações também em que surge um conflito sem ter um problema entre os dois. O homem chega do trabalho e quer ficar em silêncio, ter o tempo dele, depois de um dia sob pressão, e se afasta, e a mulher começa a sentir falta e faz cobranças, o que gera conflitos. Existem ainda as situações em que a pessoa, mesmo tendo um relacionamento, descobre que tem carências só suas, e essas carências começam a interferir na relação, exemplifica Carina, citando que tais situações podem fazer com que muitos casais percam a sintonia.

 

TRAIÇÕES

Atualmente, constata a psicóloga, as mulheres traem mais do que os homens. A mulher trai por carência, mas ela tem todo um cuidado porque não quer se expor. O homem não trai tanto por carência e também já não tem mais o perfil de se vangloriar. Tempos atrás ele se expunha e achava isso o máximo; hoje ele é extremamente discreto. Houve uma mudança de perfil e creio que isso aconteça porque também mudou o perfil da mulher que ele se relaciona, que são meninas novas, compartilha.

Carina diz que entre os casos que atende observa que a partir dos 33 anos os homens têm uma mudança de comportamento. Parece que eles passam a ter uma nova adolescência e, se a relação não está bem, querem reviver algumas coisas. Se a mulher fizer de conta que não vê isso tudo, ele vai ficar com ela e tudo bem, expõe. Já a mulher, quando sente que o relacionamento não está bom, é muito mais decidida a se separar do que o homem, amplia.


O QUE SE QUER DO OUTRO

Em um relacionamento, a profissional afirma que é fundamental que as pessoas saibam o que buscam no outro. As relações hoje são muito fraternas. Os casais se acostumam com o casamento e vão ficando amigos. A mulher, por exemplo, não precisa mais ser uma amante safada porque aí já vai ser despudorada. Isso interfere, ressalta.

No casamento, diz ela, a mulher normalmente ocupa quatro papéis. Ela é mãe, esposa, profissional e ainda exerce uma papel para a sociedade, e este é o que mais pesa. É um peso real? É! Mas as mulheres se vitimizam muito e isso é um gerador de conflitos. É claro que o papel de mãe, mulher e amante deixa a vida da mulher sobrecarregada. Mas ela precisa ter coragem de assumir tudo isso ou, talvez, vai viver frustrada, e frustrada nunca será verdadeira, não estará bem com ela mesma, fato que vai interferir no trabalho, em casa e na relação, alerta.

É muito importante, destaca a psicóloga, que a mulher tenha clareza do que quer para ela. A partir do dia que a ela se der conta de que não precisa ser vítima e de que precisa se orgulhar daquilo que faz, sem esperar reconhecimento, vai se amar mais, assegura.

Na visão de Carina, reciprocidade e cumplicidade são fatores primordiais para se manter uma relação. Se não tiver isso, abra mão do seu relacionamento, enfatiza.

Ela menciona que hoje em dia a maioria dos relacionamentos são imaturos e inseguros. As pessoas não têm mais confiança, se preocupam muito com as questões estéticas e com o que a pessoa tem a oferecer, expõe.

Infelizmente, opina, é uma questão complexa. Quando você começar a envelhecer não vai ter a beleza da juventude, vai ter só cumplicidade. Ao envelhecer você tem que cuidar do outro e esse cuidado a gente está esperando envelhecer para ele acontecer, não quer fazer agora, lamenta.

 

Maior público são casais entre 35 e 45 anos

Carina Frank comenta que o maior público que procura por terapia são casais entre 35 e 45 anos. Segundo ela, a maior crise acontece entre os 13 e 18 anos de relacionamento. Casais entre 15 e 16 anos de casamento é o que mais atendo. Muitos vêm prontos para a separação, mas na verdade descobrem que, às vezes, é só uma forma de projetar a dor. Então trabalha-se o fortalecimento emocional. Não tem como trabalhar a terapia de casal sem fortalecer as duas pessoas, sem elas entenderem o que fazem de certo ou de errado. A principal questão é: qual é o meu papel enquanto esposa e esposo? Infelizmente a maioria não sabe. Ouço muito de pacientes: não tenho coragem de me separar porque ela é uma boa mãe. Então é mais cômodo trair, relata.

A psicóloga diz que quando está diante do marido, a mulher precisa fazer o papel de esposa, não de mãe. As mulheres, muitas vezes, começam a ser muito mãe e esquecem de ser esposa. Quantas vezes a esposa se veste para o marido, se arruma para ele. Quantas vezes ele faz isso para ela ou cuida dela de verdade. Com o passar do tempo esses detalhes vão ficando de lado, já não são mais como no começo da relação, e o casamento cai no básico e isso passa a ser tido como normal, constata.

 

Muitas vezes, a separação é o melhor caminho

Quem acha que a terapia de casal busca somente a reconciliação se engana. Muitas vezes, após as sessões, os casais descobrem que o melhor caminho é a separação. Nem sempre eu busco resgatar o casamento. Às vezes mostro que a separação é o melhor caminho, mas com maturidade. A maturidade de saber que o relacionamento teve um fim e ponto. Não é que o casal ficou junto vários anos e não deu certo. Deu sim, naqueles anos deu certo. Não está mais dando agora. Tiramos o perfil de que toda separação causa dor; às vezes a relação está causando muito mais dor, enfatiza Carina.

A psicóloga comenta que até chegar a tal conclusão, esgotam-se todas as possibilidades de reconciliação. Uso várias técnicas. Vou ao limite de tudo. Às vezes passamos três, quatro meses até esgotar todas as possibilidades. Na verdade, a psicoterapia oferece oportunidades da pessoa se autoconhecer, se descobrir e escolher caminhos. Então, conforme ela vai se descobrindo, vai percebendo que nem sempre manter o relacionamento é o melhor caminho. É muito comum o casal se dar conta que a separação é a melhor escolha, mas sairá da terapia estruturado para passar por isso, enaltece.

Para a profissional, a história de que os casamentos se mantêm por causa dos filhos não cola. A separação só machuca se os pais não sabem lidar com a situação, se o casal não tiver estrutura para se manter unido pelo filho, senão o processo ocorre tranquilamente, entende.

Na opinião dela, querer manter um casamento pelos filhos tem a ver com a insegurança de se criar uma vida nova e de ter o perfil de separado(a) para a sociedade, que ainda é conservadora. Aos olhos da sociedade, temos famílias perfeitas. Mas, no fundo, não é assim. Na verdade, muitas vezes, busca-se manter um status para a sociedade. Vejo que esse é o fator mais conflitante porque a pessoa acaba sendo o que não é, expõe. Muitas vezes, atendo clientes que têm status de família perfeita na sociedade, chegam em carrões e nas terapias quase se matam, se odeiam. Mas ao sair do consultório voltam a usar uma máscara porque têm filhos, porque frequentam igreja, porque têm a questão patrimonial e social e por aí vai, complementa, ampliando: Dormem e acordam mentindo para manter o casamento e uma postura diante dos filhos, mas e o sofrimento emocional atrás de tudo isso? Todo dia essa pessoa veste uma máscara para quê? Para agradar a quem?.


A MULHER É MAIS DECIDIDA

Na maioria dos casos, afirma Carina, é a mulher que busca a separação. Em cerca de 70% dos casais quem quer se separar é a mulher. O homem nem sempre lida bem com a separação. Ele só lida bem com a separação quando já tem outra mulher e só vai trocar de casa. Se vai fazer bem, se vai ser melhor ou não, depois ele pensa. A mulher não. Ela prefere colocar um ponto final na relação e se reencontrar, mesmo que sofra, revela, emendando que o maior número de separações hoje acontece a partir dos 33 anos.

Questionada se, dos casos que atende, o maior problema nos relacionamentos está na mulher ou no homem, a psicóloga é enfática: É relativo, fica meio a meio. O homem vem para a terapia para sanar o problema porque na maioria das vezes ele não quer a separação. Já a mulher vem com mais dúvidas, geralmente busca saber se deve ou não se separar, menciona. A mulher é mais emotiva, passa mais meses chorando, se lamenta mais com as amigas. Todavia, se estrutura de uma forma mais estabilizada que o homem, pontua.

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