Política
Áudio de Joesley sofreu mais de 50 edições, aponta perito
O jornal Folha de S. Paulo divulgou na manhã deste sábado (20), que submeteu a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer a uma perito judicial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
De acordo com o perito contratado pelo jornal, Ricardo Caires dos Santos, o áudio divulgado pela Procuradoria-Geral da República tem indícios claros de manipulação e teria sofrido mais de 50 edições.
Segundo Santos, mesmo o conjunto fazendo sentido, a gravação tem vícios que poderiam invalidar o áudio como prova em um processo.
Na noite de sexta-feira (19), a Procuradoria declarou que “Foi feita uma avaliação técnica da gravação e o áudio revela uma conversa lógica e coerente” e que o áudio divulgado foi exatamente o que foi entregue por Joesley à Procuradoria. “A autenticidade [da gravação] poderá ser verificada no processo” afirmou a PGR.
O áudio porém, não passou pela Polícia Federal, pois foi gravado no dia 07 de março e entregue diretamente à PGR. A PF só entrou no caso no dia 10 de abril, quando foi iniciada a fase das ações controladas.
Em um dos trechos divulgados, Joesley indaga a Temer sobre como estava a relação do presidente com o ex-deputado federal preso pela Lava Jato, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). As duas respostas de Temer teriam sofrido cortes.
Segundo o perito, este trecho teria as seguintes edições:
“Tá… Ele veio [corte] tá esperando [corte] dar ouvido à defesa. O Moro indeferiu 21 perguntas dele… que não têm nada a ver com a defesa dele”.
“Era para me trucar, eu não fiz nada [corte]… No Supremo Tribunal totalidade só um ou dois [corte]. Aí, rapaz, mas temos [corte] 11 ministros”.
Em depoimento posterior à entrega da gravação, Joesley afirmou que nesse momento, Temer dizia ter influência sobre ministros do STF.
No entanto, no momento mais polêmico da conversa, quando Temer, de acordo com a PGR, dá anuência a uma mesada de Joesley a Cunha para evitar que o ex-deputado fizesse delação, a perícia contratada pelo jornal afirmou não ter encontrado edições, porém destacou que o trecho apresenta dois momentos incompreensíveis por conta de ruídos na gravação. Procurada pelo jornal, a assessoria da JBS não quis comentar.
Outra perícia
A pedido do Estadão, o perito extrajudicial e judicial Marcelo Carneiro de Souza afirmou ter identificado “fragmentações” em 14 momentos na gravação, isto é, pequenos cortes de edição no áudio da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista, dono da JBS.
O especialista, que disse ter feito um exame preliminar, não encontrou cortes entre o sexto e o 12º minutos, o intervalo de tempo em que se falou sobre o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB).
“Para se chegar a uma conclusão definitiva, é necessário analisar o material onde a mídia foi armazenada, nesse caso, o gravador. Verificar se esse material foi devidamente acondicionado ou se, por exemplo, ficou largado em algum local que poderia danificá-lo. Precisaria fazer uma transcrição fiel. E, para ter certeza da identidade dos dois locutores, o ideal ainda seria fazer um exame de confronto de voz”, disse Souza.
Os 14 trechos em que o perito encontrou possíveis edições estão entre o 14º minuto e o 34º minuto do áudio. “Na despedida dos dois, inclusive, há um corte grotesco, que um amador poderia perceber”, disse o perito, referindo-se ao intervalo entre 31m52s e 31m53s. Ao todo, o áudio tem 38 minutos.
O perito e professor da Unicamp Ricardo Molina, que disse não ter ouvido a gravação inteira, não apontou indícios de que tenha ocorrido edição. Ele, porém, criticou outros pontos, como a mudança no nome do arquivo original do áudio. “Não é saudável trocar o nome do arquivo justamente para saber de qual gravador saiu”, disse Molina.
O Planalto afirmou na sexta-feira (19) que deve enviar a gravação à peritos para a análise de possíveis edições.