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Elio Migliorança

1.000 DIAS

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Semana passada foi inaugurado um relógio gigante para contagem regressiva a partir dos 1.000 dias que faltam para o início da Copa do Mundo. O evento contou com a presença de autoridades, imprensa e convidados. Não consigo evitar a comparação entre a Copa do Mundo de Futebol e a copa da educação, na qual já somos campeões ao contrário. Neste dia, enquanto a presidente visitava estádios em construção, não se ouviu ninguém do governo falando da tragédia que foi o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O Enem mostrou a tragédia nacional da educação brasileira. Temos uma capacidade incrível de mobilização para agilizar as obras da Copa do Mundo, um evento que vai durar 30 dias, e não fazemos nada para preparar a vida inteira da próxima geração.
Há poucos dias, os funcionários da construtora do estádio em Belo Horizonte fizeram uma greve de advertência de um dia e o fato virou notícia nacional, o governo se mobilizou, foram convocadas autoridades para debater o assunto e evitar nova paralisação. Na mesma Minas Gerais os professores estão há 100 dias em greve e ninguém se assusta. Não há mobilização no governo, ninguém é convocado, a mídia não mostra, o governador dorme tranquilo e a questão fica em segundo plano. Para a copa, toda a atenção, já para a educação, cada um que se vire.
Estamos nos preparando para dizer ao mundo que temos capacidade para organizar o mundial, mas envergonhados diremos que não temos capacidade para educar nossas crianças. A Copa do Mundo vai nos encher de orgulho internacional, e a educação será nossa vergonha nacional. Se o governo federal quiser realmente cumprir seu slogan de que “País rico é País sem miséria”, deve começar sua luta para diminuir a desigualdade social, que cria um vale profundo de distância entre os mais ricos e os mais pobres. A desigualdade social começa na desigualdade educacional. Do jeito que vai a educação, estamos lançando as futuras gerações no abismo do atraso, condenando nossas crianças ao abismo da desigualdade.
Interessantes os números do Enem. Das 100 escolas com melhor resultado, somente 13 são públicas. E destas, 12 são escolas federais. Das 300 melhores do país, somente 28 são públicas, das quais 27 são federais. Aí está a senha. Quando Cristovam Buarque, senador pelo Distrito Federal, foi candidato a presidente da República, na mais inteligente proposta daquela campanha, propôs a federalização da educação, com a criação da carreira de professor federal para todos os níveis de ensino, da mesma forma que existe para funcionários do Banco do Brasil, Caixa Econômica, Justiça Federal e universidades federais. As escolas teriam padrão nacional, assim como o Banco do Brasil. Ao invés das empresas doarem computadores ultrapassados para as escolas, as escolas doariam seus computadores usados para bancos e órgãos do governo, de modo que as escolas sempre tivessem equipamentos “top de linha”. Sinceramente, se você entrasse numa loja cujo visual fosse semelhante a muitas escolas por aí, você teria coragem de comprar uma geladeira? A qualidade do prédio inspiraria tal confiança? Pois é ali que entregamos nossos filhos para que se preparem para o futuro.

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