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Editorial

A CPI é um retrato do Brasil

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O bate-boca acalorado, cheio de palavrões, protagonizado ontem (23), durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, entre os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), relator, e Jorginho Mello (PL-SC), é um retrato fiel do que vive o Brasil hoje. “Puxa-saco, picareta e vagabundo” foram alguns dos xingamentos misturados ao pronome de tratamento Vossa Excelência, o que, em princípio, parece até confuso de entender. Ou é Vossa Excelência ou é ladrão.

Mas, enfim, a CPI tem se mostrado um retrato não apenas de um Brasil dividido, polarizado politicamente, mas de um Brasil que perdeu o bom senso, que perdeu até mesmo a razão. Retrato de um Brasil que produz e consome baboseiras, que perdeu a compostura com o diferente, que parte para a briga, que ignora todas as possiblidades de soluções que sejam, no mínimo, razoáveis.

Mas, não. Cada um estica a corda para o seu lado, do jeito que dá, ignorando o que deveria ser o alvo central das discussões, mesmo que para isso seja necessário mentir, xingar, coagir, insultar, inventar.

Afinal, a CPI foi instalada para que o povo brasileiro seja beneficiado com a verdade, mas cada dia que passa percebe-se que ela trata apenas do jogo político. Para ser bem sincero, talvez ninguém está lá para o bem da nação.

Deputados e senadores brigam por motivos que todos conhecem e que não são as consequências da pandemia e a condução de seu enfrentamento.

O baixo nível que os representantes brasileiros demonstram (não vamos nem falar dos gestos obscenos do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga) chegam a envergonhar. A briga na CPI, que poderia ser pior, pois os dois cavalheiros quase entraram em vias de fato não fosse a turma do “deixa disso”, é um espelho do Brasil que perdeu a noção. Claro que nem tudo e nem todos os brasileiros agem essa forma. Aliás, uma minoria, mas que causa um barulho tremendo e que ganha as manchetes de todo o país, estimulando cada dia mais o ódio entre brasileiros.

Famílias brigam, amigos estão brigando, vizinhos não se olham, pessoas até deixaram de ouvir cantores que antes gostavam só porque o artista apoia essa ou aquela ideia. Pra quê?

Estamos promovendo um vexame nacional, estamos caindo no ridículo. E nada mais fiel do que os devaneios, gritarias e falta de educação da CPI para retratar esse cenário caótico, mas especialmente vergonhoso.

Engravatados se apunhalando em defesa de quem? Do povo brasileiro é que não.

Longos, angustiantes e especialmente vexaminosos serão os próximos dias, meses. Mais e mais barbáries vão acontecer na CPI, vão inflamar as redes sociais, vão “embasar” os sabedores de tudo que promovem mais e mais ataques, geram mais e mais ira, despertam mais e mais o pior que existe nas pessoas. Que venha a próxima vergonha nacional.

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