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Silvana Nardello Nasihgil

A falta de amor

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Quanta dor carregam as crianças que não são amadas.

Quanta dor carregam os adolescente e adultos que não foram amados.

Quantos sofrimentos poderiam ser evitados se os pais tivessem a real responsabilidade sobre os seres que colocam no mundo.

Não ter sido amado é uma herança doída que muitos carregam pela vida toda, transformada em angústia, medos, inseguranças, falta de coragem, falta de atitudes, baixa autoestima, falta de confiança em si e nos outros, uma infinidade de comportamentos negativos e até distúrbios que podem incapacitar para o amor e uma condução consciente da vida.

A falta de amor não vem só da falta de dizer te amo. Isso, às vezes, não quer dizer nada além de simples palavras. É pouco demais, porque a palavra pode ser só um jeito dos pais se penitenciarem pelas atitudes egoístas de viver a própria vida sem querer ter responsabilidades. Então, dizer eu te amo sem atitudes que avalizem isso de nada vale.

A falta de amor vem quando os pais brigam o tempo todo, não poupando seus filhos de vivenciarem todo tipo de atrocidades, quer nas palavras quer nas atitudes.

A falta de amor vem das horas que os pais gastam no celular, ignorando a presença dos filhos que esperam por um carinho, aconchego, escuta ou abraço. Isso faz a criança se sentir invisível e fomenta a baixa autoestima.

A falta de amor vem de pais que se importam muito mais em buscar casos fortuitos, trocando seus filhos por “ficantes”, pelo prazer de se sentirem desejados, enquanto seus filhos padecem por falta de atenção.

A falta de amor vem da falta de interesse na vida dos filhos, escola, amigos, necessidades emocionais, sexualidade, saúde física e mental, dúvidas, incertezas e angústias, falta de interesse esse que poderia evitar tantos desajustes e sofrimentos.

A falta de amor vem da incompreensão de que quem coloca um filho no mundo precisa ter responsabilidade sobre a vida dele e não delegar à escola e às “tatas” o dever de transformar crianças em adultos.

A falta de amor vem de pais preocupados consigo e que deixam os filhos em segundo plano, pais egoístas que, ao invés de cuidarem dos seus filhos, concorrem com eles por um melhor lugar perante a vida.

A falta de amor vem de tantas coisas que fica difícil enumerá-las. Então, concluo: colocar filhos no mundo e criá-los com amor não cabe para todo mundo. É fácil perceber que muitos filhos são concebidos na ânsia dos pais de terem um bebê, porque todo mundo tem, não é verdade? Nesse querer, muitos, com o passar do tempo, excluem a total responsabilidade de criá-los com amor e de acompanhá-los pela vida até que possam voar sozinhos.

Um quarto azul ou rosa e chamar um bebê de príncipe ou princesa não é passaporte para o amor; é só o agendamento do passaporte. É preciso juntar os documentos, cumprir todos os trâmites, só então, depois de tantas coisas, estar habilitados para as viagens, com conforto e segurança.

Ter um filho é um passaporte para uma viagem com acompanhante, que será para sempre no quesito do amor/amar. Deve ser uma viagem em que o amor seja o destino e que todos estejam totalmente empenhados, sem medir esforços, com um único objetivo: chegar, todos, muito bem física e emocionalmente no destino final, destino esse que se baseia em ajudar a construir um adulto cheio de amor próprio, capaz de administrar a sua vida e as suas emoções, bem como um ser humano que aprenderá a amar verdadeiramente.

Quem não entender isso faça um favor a si e à humanidade: não coloque filhos no mundo para sofrer.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica (CRP – 08/21393)

 

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