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Arno Kunzler

A pauta dos novos prefeitos

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Quem diria, há poucos anos não se falava outra coisa se não como gerar empregos?
Prefeitos de cidades grandes e pequenas tinham olhos para um único e longínquo objetivo: trazer indústrias que fossem capazes de suprir a ausência de empregos.
A partir do início do século, no entanto, a realidade brasileira, e especialmente a da região Oeste, mudou.
Há pelo menos dez anos, um dos mais notáveis homens do agronegócio na região Oeste do Paraná, o presidente da C.Vale, Alfredo Lang, já profetizava: a única maneira de impedir a expansão da agroindústria no Oeste do Paraná é pela falta de mão de obra…
Naquele tempo era corajoso afirmar isso, hoje é a mais pura e absoluta verdade.
Chegamos lá, empresas de pequeno e médio porte precisam organizar sua expansão, levando em consideração a mão de obra disponível.
E hoje não falamos mais em mão de obra especializada que está em falta. Hoje falta tudo.
As mudanças constantes ocorrem também pela elevada procura de pessoas.
Além do emprego pleno que estamos vivendo, ainda podemos contabilizar uma outra vantagem dos tempos atuais.
O poder de compra do cidadão comum, aquele que ganha salário e que presta serviços autônomos de forma independente, aumentou consideravelmente.
Não há nada parecido na história recente do Brasil. Talvez, para quem viveu um tempo dos anos 60 e um pouco dos anos 70 na região Oeste do Paraná, vivemos um fenômeno parecido. Mas o emprego naquele tempo era na destoca, na retirada da madeira, na zona rural, trabalhos braçais, hoje inimagináveis.
O Oeste do Paraná não viveu nenhum período como o atual.
Se é só por causa da política econômica, ou só por causa da expansão do momento do agronegócio, talvez seja difícil para um leigo analisar.
O certo é que as empresas estão preocupadas com a falta de mão de obra, as famílias estão preocupadas com a falta de pessoas disponíveis, inclusive para empregados domésticos.
Não bastasse isso, estamos na eminência de colher uma das maiores safras agrícolas da história.
Milho e soja, que já passaram do ponto crítico e se não houver nenhuma intempérie que possa prejudicar seu desenvolvimento final, terão uma safra histórica.
Não bastasse a abundância da colheita, ainda temos a expectativa de ter preços históricos, especialmente para a soja.
O que vai dar isso? Difícil prever, mas haverá muito dinheiro aplicado nos bancos e muita especulação nos próximos meses.
Um aumento considerável da produção primária, o que pode gerar dificuldades para as agroindústrias que, afinal, para obterem bons resultados dependem de insumos e mão de obra de boa qualidade e em quantidade.
Nossa agroindústria não está preparada para operar com a soja valendo mais de US$ 50 a saca e nem pagando salários para operários sem qualificação acima de US$ 500 ao mês.
A conta vai apertar, os preços vão se equalizar com os dos países mais avançados e nossa competição internacional, que antes era facilmente vencida pelos preços baixos dos nossos produtos, agora vai ter preços iguais e competir pela qualidade dos produtos e logística comercial.
Aí, nesses itens o Brasil é um país de terceiro mundo, sem ferrovias, sem hidrovias, com poucas rodovias e portos e aeroportos defasados, além da incompreensível e intolerável burocracia oficial.
Se antes precisávamos promover desenvolvimento para gerar empregos para um enorme contingente de pessoas sem atividade econômica, agora os prefeitos precisam trazer gente para atender à demanda das empresas se querem contribuir para manter o crescimento desejável de seus municípios.
E trazer mão de obra de onde?
Onde buscar pessoas para substituir aqueles que deixaram as fábricas para desempenhar atividades mais rentáveis, nas próprias indústrias, em outros setores da atividade econômica ou como autônomos no mercado livre?

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