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Dom João Carlos Seneme

A paz esteja convosco. Meu Senhor e meu Deus

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Nestes dias de Páscoa a liturgia nos faz assistir ao nascimento da fé pascal. Mediante a narração das aparições do Ressuscitado, vimos renascer nos discípulos de Jesus, desanimados e dispersos, a fé e o amor para com Ele: a fé nasce da ressurreição. Surge uma nova comunidade da cruz e da ressurreição de Jesus: a igreja. A sua missão consiste em revelar à humanidade a vida nova que brota da ressurreição. Jesus, vivo e ressuscitado, é o centro da comunidade cristã; é ao redor d’Ele que a comunidade se estrutura e é d’Ele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os discípulos encontram as provas de que Jesus está vivo.Depois da morte de Jesus, os discípulos experimentaram a solidão. O medo tomou conta deles a ponto de se fecharem por temor dos judeus. Tinham vivido três longos anos com o Mestre, mas não conseguiram entender que Jesus havia ressuscitado. O modo de pensar deles era ainda muito superficial. Vendo Cristo impotente e morto na cruz, eles esqueceram tudo o que Jesus dissera e ficaram com medo: “Eu vos verei novamente, e o vosso coração se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16,22). “Eu vos disse estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. Tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo, 16,33). Os discípulos se alegraram ao ver o Senhor, e se sentiram confortados com suas palavras: “A paz esteja com convosco! Recebei o Espírito Santo”! Contudo, os discípulos deveriam esperar o dia de Pentecostes para que a vinda do Espírito Santo purificasse o espírito e o coração deles e lhes desse coragem para proclamar a glória de Deus, anunciar a Boa-Nova da salvação e fortalecer seus seguidores. Com isso eles sentiam a proximidade de Deus através de Jesus Cristo e do Espírito Santo. Deus não impõe o seu amor. Ele espera que o próprio homem dê o primeiro passo. Deus salva quem o acolhe por meio da fé, da esperança e do amor. Deus e a humanidade se aproximam um do outro e caminham na mesma direção em Cristo e na sua Igreja. Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado? São João acentua que podemos fazer a experiência da fé em Cristo vivo e ressuscitado na comunidade dos que partilham a mesma fé, a igreja, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor do Senhor. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si mesmos (está fora) e que não fazem caso do testemunho da comunidade, nem percebem os sinais de vida nova que nela se manifestam. Tomé, em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter (apenas para si próprio) uma demonstração particular de Deus.Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade sete dias depois: “Meu Senhor e meu Deus!”. O diálogo de Jesus com Tomé permite ao leitor compreender que se chega à fé no Cristo Ressuscitado através do testemunho da comunidade: “Vimos o Senhor”. Só se chega à experiência do Ressuscitado mediante o testemunho. No “dia do Senhor”, Tomé volta a estar com a sua comunidade. É uma alusão clara ao domingo, dia em que a comunidade é convocada para celebrar a eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado.No dia 30 de abril de 2000, canonização de Santa Maria Faustina Kowalska, o papa João Paulo II declarou: “Em todo o mundo, o segundo domingo da Páscoa receberá o nome de “Domingo da Divina Misericórdia”, um convite perene ao mundo cristão para confiar na Divina Misericórdia: a relação da humanidade com Deus suscita entre nós novas relações de solidariedade fraterna.Neste dia 27 de abril de 2014, o papa Francisco presidirá a celebração eucarística em que serão declarados santos os papas João XXIII e João Paulo II. Peçamos que eles intercedam pela igreja e, de modo especial, pela Diocese de Toledo. 
* O autor é bispo da Diocese de Toledo
revistacristorei@diocesetoledo.org

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