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Elio Migliorança

A Quaresma e o coronavírus

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O barulho das notícias sobre o coronavírus atravessou fronteiras e correu o mundo, causando medo, ansiedade e provocando uma corrida em busca de informações sobre os riscos e as medidas de segurança para evitar o pior. Pesquisas frenéticas sobre as defesas que o organismo possui para combater o invasor assassino e os alimentos para fortalecer as defesas do corpo humano.

Com as informações à velocidade da luz, muitas pessoas estão em pânico como se o assassino estivesse ali na calçada. Informar-se, precaver-se e cuidar da saúde devem ser procedimentos de rotina e não apenas em situações de risco. O fato é que temos no Brasil problemas bem mais graves e que deveriam merecer nossa atenção urgente já que o risco é maior do que o representado pelo coronavírus.

Mais de 700 mortes no Brasil em 2019 causadas pela dengue. No Paraná são mais de 26 mil casos confirmados e 23 mortos nos últimos seis meses. Esta epidemia está na porta e muitos sequer tomam as providências mais elementares para impedir que a dengue se espalhe e continue matando.

Todas estas preocupações com a saúde e como evitar o contágio ou reforçar as defesas do organismo é próprio da natureza humana. Isto me fez refletir sobre a Quaresma, um período que a minha igreja celebra no pós-Carnaval. É um período de 40 dias que antecedem a principal celebração do cristianismo: a Páscoa. Nele somos convidados a lembrar dos 40 dias passados por Jesus Cristo no deserto e os sofrimentos que Ele suportou na cruz. É um convite à escuta da palavra de Deus, orando e praticando boas obras.

Nos convida a viver uma série de atitudes cristãs. É um tempo para refletir de forma mais profunda sobre nossa vida espiritual. Nossa dimensão espiritual é que nos diferencia dos animais. E aí está a correlação da Quaresma com o coronavírus. Enquanto um risco à nossa saúde física nos motiva a fazer uma revisão da nossa condição física e das defesas do organismo para evitar uma doença e talvez até a morte, o tempo quaresmal deve ser oportuno para revisarmos a nossa espiritualidade, já que um desequilíbrio nesta área também pode nos levar à morte.

Quantas doenças hoje são de origem mental, psíquica ou espiritual, cujas consequências extremas podem ser um distúrbio mental, a depressão e resultar em suicídio. Talvez aqui esteja o ponto. Tudo aquilo que não exercitamos ficará atrofiado.

Este convite à reflexão nos permite avaliar o sentido da nossa vida e avaliar a direção em que estamos indo. Aqueles que possuem uma crença religiosa têm à disposição os meios para o cultivo desta espiritualidade, e no caso dos cristãos o tempo da Quaresma é propício para tal. Caso você não siga nenhuma religião, há outros meios de cultivar esta espiritualidade, basta querer fazer o bem ao próximo que as oportunidades estão ao alcance da mão independente da cidade ou lugar onde você mora. O importante é aproveitar a oportunidade de refletir sobre a realidade que nos cerca e descobrir o que podemos fazer para o bem comum.

Assim como nos preocupamos muito com a saúde física, não deixemos que o coronavírus ou a dengue da alma destruam nossa dimensão espiritual, pois com ela pode morrer também nossa parte material. Nossa vida é como um carro, sempre precisando de uma boa revisão. Faça a sua e viva mais feliz. 

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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