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Elio Migliorança

A santa e os fariseus

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Os brasileiros voltaram os olhos para Roma nas últimas semanas, atraídos por dois eventos da Igreja Católica. Um deles, o Sínodo da Amazônia, que iniciou no dia 06 de outubro e encerra no próximo dia 28. Anunciado em 2017, tem como objetivo uma análise sobre a evangelização dos povos da região amazônica, com todas as suas dificuldades e desafios, bem como o respeito à diversidade religiosa na região.

Um dos desafios é a falta de sacerdotes para as celebrações, já que, em muitas comunidades, a presença do sacerdote ocorre em média duas vezes por ano devido a distâncias e, com isso, a maior parte do tempo são os leigos que se responsabilizam pela vida espiritual da comunidade. Estudam a possibilidade da Igreja mudar uma norma disciplinar já em vigor há mais de 700 anos, que é a ordenação de homens casados para o sacerdócio naquela região.

O tema preservação ambiental da região amazônica também será abordado, dada a sua importância para o equilíbrio climático do continente. Estranho é o furor com que muitos ataques estão sendo dirigidos ao Vaticano como se o Sínodo tivesse sido convocado por conta dos recentes incêndios na Amazônia ou por causa do atual governo, o qual em 2017 sequer existia na ordem do dia.

O outro evento ocorreu no último domingo, dia 13, quando foi canonizada a primeira santa nascida no Brasil, a popular Irmã Dulce, agora Santa Dulce dos Pobres. Canonizar alguém significa dar ênfase à vida e obras da pessoa, sinalizando que é uma vida digna e vivida de acordo com os princípios do cristianismo.

Para os católicos é um fato relevante, como se pôde ver nas manifestações das últimas semanas. Estranhíssimo e revoltante foi o número de fariseus que usaram o fato como desculpa para se apossarem do dinheiro público e aproveitarem para um passeio na cidade eterna. Gente que nunca coloca os pés numa igreja e vive mais ou menos como viviam os fariseus nos dias de Jesus, consideraram-se indispensáveis na cerimônia de canonização e aproveitaram para um belo passeio e quiçá compras na cidade eterna.

As palavras de Jesus aos fariseus, como narra o evangelista Mateus, cabem como uma luva para qualificarmos estes aproveitadores que com o nosso dinheiro foram a passeio com a desculpa de uma devoção. Referindo-se aos fariseus dizia Jesus: “Façam o que eles dizem, mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam. Eles colocam fardos pesados sobre os ombros dos outros, mas eles mesmos não levantam um só dedo para movê-los”.

No mesmo balaio podem ser colocados os membros do Executivo e do Judiciário que tenham ido com o dinheiro público para tal evento, visto que cada cidadão ou devoto quando viaja tem que fazê-lo com seu próprio salário. E disse mais Jesus: “Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens. Ai de vocês mestres da lei e fariseus, hipócritas. Vocês devoram as casas das viúvas e para disfarçar fazem longas orações. Por isso serão castigados mais severamente. Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade”.

Santa Dulce não tinha dinheiro e deu a vida pelos pobres, estes fariseus gastaram o dinheiro que pode custar a vida dos pobres quando não há recursos para a saúde pública.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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