Arno Kunzler
Alguma dúvida?
Será que alguém tem dúvidas em relação às suspeitas que se estabeleceram sobre o alto comando do Ministério da Saúde, pelo jeito comandado de fora para dentro pelo centrão, através do deputado federal Ricardo Barros?
Os governos se sucedem e o centrão está ali, implacável, com ações previsíveis e infalivelmente maquiavélico.
Se fosse um partido político seria o mais fiel, o mais leal e o mais coerente com seu ideário.
O centrão é inconfundível. Vai chegando de mansinho, com a proposta de viabilizar a governabilidade.
Prefere ministérios e espaços no governo onde se manipulam os grandes volumes de recursos, e não por acaso no Ministério da Saúde, onde tudo pode acontecer durante uma pandemia.
Ao trazer o centrão para dentro do seu governo, Jair Bolsonaro entregou a chave do galinheiro para as raposas.
E vai pagar o preço desse acordo que elegeu os presidentes da Câmara e do Senado, diga-se de passagem, com ampla maioria de votos, comemorados pelo Planalto e sua turma de choque nas redes sociais.
Uma das argumentações que sempre se ouve quando se questiona o governo Bolsonaro é que não há acusações de corrupção.
Não havia, agora há.
E pior, acusações que envolvem diretamente o próprio presidente, que teria sido alertado pessoalmente pelo deputado federal Luis Miranda e seu irmão Luis Ricardo Fernandes Miranda, funcionário de carreira do Ministério da Saúde, ainda em março deste ano.
Toda insistência de desmentir a tentativa de corrupção, desmoralizando os irmãos Miranda e a CPI, caem por terra quando os envolvidos são figuras carimbadas ligadas historicamente ao centrão, envolvidas em sucessivas denúncias de corrupção.
Não há dúvida que o governo está acuado e precisa urgentemente encontrar respostas para contrapor essas acusações.
Talvez nem o governo temia e nem os membros da CPI imaginavam encontrar esse imbróglio, mas já que apareceu, é possível que a CPI, tão criticada, passe a ter outro rumo e comece a ser vista com mais empatia e respeito.
CPI nunca é boa para o governo, nem essa que parecia ser apenas uma armadilha para fazer barulho…
O desfecho dessa investigação pode levar o presidente a ter ainda mais dificuldades do que já tem, tanto em suas complexas articulações com o Congresso como nas dificuldades de administrar as crises advindas da seca, da geada e da própria pandemia.
Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos