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Editorial

Alguns enganos

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Entre as eleições de 2010 e 2016, eleitores da Comarca de Marechal Cândido Rondon que não compareceram às urnas e não justificaram sua ausência financiaram quase R$ 150 mil para os partidos políticos. Pouca gente sabe, mas aquela multa de R$ 3,51 e que parece irrisória que o eleitor recebe ao não comparecer no processo eleitoral é revertida não para a Justiça Eleitoral, mas para as agremiações políticas. De grão em grão, o Fundo Partidário ficou quase R$ 150 mil mais rico em apenas seis eleições – cada turno equivale a uma eleição – em seis municípios – hoje são quatro na comarca.

Geralmente, aquele que não comparece às urnas e não justifica sua ausência é o cidadão desinteressado pela política. Descontente, se furta da exigência de cumprir um direito, não tem receio em pagar as multas porque elas são baixas e não tem vontade de fazer parte do processo que vai definir o futuro político, social e econômico do Brasil. Tremendo engano. É o mesmo que pede mudanças e condena políticos envolvidos em esquemas de corrupção, mas não utiliza o voto consciente como arma para dizer o que ele prefere. Não está nem aí para a política, tão pouco para as eleições, mas está financiando diretamente as campanhas por todo o país, de gente do bem, de gente do mal.

É verdade que faltam boas opções para o eleitor, tornando uma eleição desestimulante, pouco atraente. Os grandes caciques de Brasília estão novamente dando as caras para o próximo pleito. É gente que está no poder há décadas e ajudou o Brasil a chegar onde chegou: um país sem segurança, com uma educação de péssima qualidade e a saúde na Unidade de Terapia Intensiva. Muitos pensam: “meu candidato não tem chance”. E não votam! Outro engano. Outros ainda votam em branco ou anulam. Nova presepada.

Fato é que quanto mais o povo brasileiro se afasta das decisões políticas e dos processos eleitorais, mais será massacrado pelas decisões dos mesmos governantes de sempre, que se perpetuam no poder com bases eleitorais solidificadas e passadas de geração em geração, onde mudam-se as caras, mas não os interesses. Nesse momento, que parece ser o pontapé para o país galgar governos e governantes menos corruptos, é preciso estar engajado. Engajado em pessoas boas e capacitadas, não em discursos vazios e ofensivos, projetos subjetivos ou na adoração a partidos políticos.

No entanto, mesmo se os melhores possíveis candidatos forem eleitos, a mudança que o Brasil precisa não parte exclusivamente de seu governo. A mudança que o Brasil precisa depende mais daquele cidadão que não dá a mínima para as urnas, depende do empresário se engajar nas demandas de sua classe e cobrar incisivamente o fim de gargalos, depende de cada setor social participar mais das ações e leis que escorrem de Brasília e atingem a todos. A mudança que o Brasil precisa depende, sim, de políticos honestos e comprometidos, mas que ela só vai acontecer quando o brasileiro verdadeiramente participar do dia a dia de seu país.

Não é apenas cobrar, é também fazer.

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