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Dom João Carlos Seneme

Ama o próximo como a ti mesmo: remédio contra o egoísmo e a indiferença

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Com o relato deste domingo o Evangelho de Lucas conclui o famoso capítulo social que no domingo passado levantou questões específicas para os cristãos, como o apego ao dinheiro ou a riqueza e atitude que se espera do verdadeiro cristão: “Não se pode seguir a Deus e ao dinheiro”.

A parábola deste domingo relata a vida de um homem rico que aproveita tudo o que seu dinheiro pode lhe dar e não se importa com um pobre faminto, abandonado e doente à sua porta. Ao final, o rico é destinado ao inferno e o pobre Lázaro é colocado junto de Deus. O rico recebeu tudo durante a vida terrena e o pobre recebe o seu prêmio no céu.

O relato coloca em evidência o que aguarda aqueles que não são capazes de partilhar sua riqueza com os pobres. A questão não é simplesmente dar esmolas; a parábola é mais contundente: a situação em que se encontra Lázaro é também responsabilidade do homem rico que se veste de linho puro e realiza grandes festas e nem presta atenção no pobre Lázaro à sua porta. A narração desta parábola é atual porque aponta para as grandes diferenças sociais em que vivemos, do empobrecimento global, pessoas morrendo de fome.

O personagem chave na parábola é o homem rico. Ele não tem nome e vive em meio às riquezas, esbanjando tudo sem qualquer sentimento de responsabilidade com o mundo que o rodeia. Por isso, a parábola tem um objetivo bem preciso: o uso iníquo da riqueza. O homem rico não é condenado simplesmente por causa de sua riqueza, mas porque não foi capaz de viver a vida como um dom e não ajudou o pobre doente e faminto que estava morrendo à sua porta. A riqueza em si mesma não é um pecado, mas se torna pecado quando é utilizada somente em proveito próprio permitindo que os pobres morram. É pecado a falta de solidariedade que divide a humanidade e permite que alguns vivam na abundância em detrimento de outros que morrem de fome e de miséria.

O Evangelho não se detém na crítica radical das injustiças, mas as supera com o “imperativo radical”: “Ama teu próximo como a ti mesmo”! É este o verdadeiro princípio social do Evangelho. Assim se poderia eliminar o egoísmo e a injustiça e suavizar os males inevitáveis da vida. O que se reprova ao rico da parábola é ele não ter tido o mínimo de compaixão e de amor para com o pobre que se sentava à sua porta e que via cada dia morrendo aos poucos de inanição. Condena-se o egoísmo e a falta de compaixão.

O amor ao próximo é o caminho que ensina a não se conformar com o mundo como ele é, muitas vezes, dividido entre ricos e pobres. Como se assim fosse a vontade de Deus. O seguidor de Jesus se incomoda e procura superar esta dualidade. Torna-se sensível ao sofrimento daqueles que encontra pelo caminho. Aproxima-se do necessitado e o ajuda. Diz São Paulo aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,2).

 

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