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Dom João Carlos Seneme

Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento

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O povo de Israel vivia sob o jugo de Roma e, por isso, devia pagar imposto através de uma moeda especial que tinha a efigie do imperador Tibério com a escrita “Tibério César, Augusto filho do divino Augusto, pontífice máximo”.

Havia controvérsias na sociedade hebraica quanto ao pagamento do tributo. Alguns como os zelotas defendiam o não pagamento do tributo; os herodianos pagavam sem problemas; os fariseus aceitavam pagá-lo, porém reconheciam o senhorio de Deus e suspiravam pela libertação final. A armadilha preparada contra Jesus derivava destas diversas posições que poderiam originar reações diferentes e perigosas.

A resposta de Jesus coloca a situação em um outro nível, superando o simples aspecto do que é lícito ou proibido. Ele não apoia a resignação diante da ordem estabelecida nem nega o Império Romano e suas leis. Ele simplesmente eleva o tom da discussão e coloca em causa o próprio Deus dizendo que a Deus pertence o ser humano porque o Senhor deve ser amado com todo o coração, com toda a alma e com todo o entendimento, ou seja, com a pessoa inteira. O ser humano não pertence à autoridade terrena porque ela é provisória, só Deus é eterno. Ele acentua que o ser humano está inserido em uma sociedade e deve cumprir suas responsabilidades. Contudo, as leis humanas não garantem a salvação do ser humano, ou seja, elas não respondem ao seu destino último. A política tem o seu valor enquanto auxilia a vida em comunidade; ela é necessária enquanto ajuda a arte de viver na cidade (polis), mas não responde às perguntas últimas do ser humano.

O mais importante é que o ser humano reconheça Deus como o seu único Senhor. Nas palavras do profeta Isaías: “Eu sou o Senhor, não há outro”. As moedas romanas têm a imagem de César: que sejam dadas a César. O ser humano foi criado à imagem de Deus porque pertence somente a Deus; deve entregar-se a Deus e reconhecê-lo como o seu único Senhor. Isto indica que o homem e a mulher não são objetos que podem ser usados, explorados e alienados, mas seres revestidos de uma suprema dignidade, de uma vida divina. Destruir a imagem de Deus que existe em cada pessoa é um grave crime contra Deus. Devemos nos sentir responsáveis uns pelos outros e lutar para que todos tenham sua dignidade e direitos respeitados. Temos o dever grave de lutar, de forma objetiva, contra todos os sistemas que, na Igreja ou na sociedade, atentem contra a vida e a dignidade de qualquer pessoa.

Neste fim de semana a Igreja Católica no mundo inteiro celebra o Dia Mundial das Missões (18 e 19 de outubro), quando todos são estimulados a colaborar de alguma forma com as missões em todas as nações. A coleta em favor das missões é uma forma de estarmos presentes ajudando muita gente a descobrir que são criaturas vocacionas à felicidade e à vida eterna.

O papa Francisco, em sua mensagem para este dia, chama a atenção para o cuidado uns dos outros recordando que a vida é missão e que todos somos convidados a responder “Eis me aqui, envia-me”. “Todo missionário é convidado a educar o olhar sobre as realidades de dor e, sobretudo, saber contemplar o belo, como fazia São Francisco de Assis, encantando-se com as criaturas presentes pelo caminho”.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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