Arno Kunzler
Bolsonaro não decepciona!
Se existe uma coisa que se pode antever cada vez que Bolsonaro aparece para dar entrevistas é a certeza de que não vai decepcionar.
Seus aliados, especialmente os mais próximos e radicais, aprovam todas as suas falas, inclusive os palavrões.
Cada vez que Bolsonaro fala, está mais próximo dos seus eleitores mais fiéis.
Cada vez que ataca a imprensa, a Globo e a Folha em especial, a esquerda e agora Sérgio Moro, já devidamente qualificado e carimbado como esquerdista, ele fala mais o que seus eleitores querem ouvir.
O mesmo se pode dizer em relação aos seus adversários: Bolsonaro nunca decepciona.
Cada vez que fala tem algo novo para dizer aos seus adversários: frases de efeito, acusações e insultos, como fez ao presidente da Câmara no dia da demissão de Moro, desviando completamente o foco, e como fez na última sexta-feira (22), depois do ministro decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, autorizar a divulgação da gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril.
Assim como estimula seus aliados e a população a se armar para não permitir que governadores e prefeitos lhes façam suposto mal, alimenta seus adversários a pedir seu impeachment.
É absolutamente verdadeiro que Bolsonaro não decepciona ninguém. Ele atende em 100% a expectativa tanto dos seus eleitores quanto dos seus adversários, disso ninguém pode reclamar.
Além disso, suas falas, especialmente quando se sente encurralado por situações adversas, por mais chulas que sejam, agradam seus aliados.
Elas despertam amor e ódio ao mesmo tempo, como nunca jamais alguém conseguiu fazer antes.
Nem Lula e nem Fernando Henrique quando estavam no auge conseguiram tanta fidelidade, tanto dos apoiadores, quanto dos adversários.
Bolsonaro sabe bem estimular críticas, tanto que faz a Globo dedicar-lhe seus melhores programas, e quanto mais o jornalismo da Globo ataca Bolsonaro, mais a emissora perde credibilidade e, provavelmente, audiência.
O mesmo acontece com Lula. O líder do PT já avisou seus aliados que não adianta atacar Bolsonaro. Disse categoricamente que isso só promove o presidente.
O mais recente adversário escolhido por Bolsonaro, aquele que ele chamou para ser seu ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, também já descobriu que não se pode atacar Bolsonaro sob pena de virar vítima.
O contra-ataque do presidente é mortal. Ele não mede palavras e não escolhe onde bate, vai direto no queixo, leva à lona quem ousa amedrontar ou desestimular seus seguidores.
O tal do gabinete do ódio, se de fato existe, sabe produzir vídeos e frases de efeito, muitas vezes bem-humorados e aparentemente inofensivos, que se multiplicam pelo país em segundos.
É um verdadeiro triturador de inimigos, ou seria um misturador que transforma erros em acertos, que, uma vez ligado, consegue livrar o presidente de qualquer palavrão ou equívoco, trazendo isso para um contexto aceitável e exaltado por seus seguidores.
Da tal da reunião do dia 22 de abril só lembramos dos palavrões, e saber que ali foram ditas muitas coisas importantes, tanto boas como ruins, mas que ninguém mais lembra…
Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos da Natureza
arno@opresente.com.br