Arno Kunzler
Bolsonaro x governo
Com bastante frequência podemos perceber que o presidente Bolsonaro bate cabeça com seu governo.
Podemos avaliar os primeiros meses de governo como uma partida de futebol.
De um lado o Bolsonaro, seus filhos e os problemas que eles conseguem criar, fatos que conseguem polemizar e atitudes que contrariam o caminhar do governo.
Bolsonaro fala o que e quando não deve.
Briga com quem não precisava.
Polemiza assuntos que são irrelevantes e não mereciam destaque.
Isso, sem dúvida, atrapalha, dificulta a união e retarda discussões e votações de projetos e principalmente investimentos que poderiam acontecer já, e estão na espera.
Por outro lado, o governo Bolsonaro se esforça para elaborar e discutir projetos de relevância e que precisam ser votados no Congresso.
É um governo que não tem medo de mexer nas estruturas, que não teme cortar despesas, que luta para construir uma maioria no Congresso a favor dos projetos essenciais.
Nunca antes na história desse país, para não esquecer dessa frase, um governo foi tão propositivo, tão ousado e tão conectado com os eleitores que formaram sua base eleitoral vitoriosa.
O governo é atuante e em seis meses já elaborou uma infinidade de projetos que em outras épocas levariam meses para sair dos gabinetes.
Nesse sentido é inegável que o governo funciona, que tem sintonia e que não esqueceu do recado que veio das ruas e das urnas.
E em grande parte, as iniciativas desse governo vêm de uma organização que foi demonizada nos últimos 40 anos.
Trata-se do Exército Brasileiro, cujos generais, não sei se já estavam envolvidos na campanha de Bolsonaro, mas foram chamados para compor o governo.
Deram ao governo um núcleo de inteligência, articulação e capacidade de realização.
De tão bem estruturado que está o governo com tantos militares graduados, até parece que estimulam o presidente a falar coisas periféricas para ocupar a opinião pública enquanto o governo se ocupa com as grandes questões estratégicas.
Todavia, falta ao governo um apelo mais forte no Congresso.
Para evitar que esses projetos fiquem apenas no papel, o governo precisa encontrar um jeito do Congresso deliberar.
Parece que o primeiro passo foi convocar o povo para ir às ruas pedir apoio ao presidente – no caso votar os projetos da reforma.
Tudo indica que as coisas mudaram e, pelo menos em parte, o Congresso começou a trabalhar com mais foco nas reformas, que são as propostas de campanha.
O governo tem hoje dois grandes desafios.
O primeiro é fazer valer a força que veio da manifestação das urnas e aprovar as reformas que o país exige para voltar a crescer.
O segundo é não se dobrar ao modelo político que tanto combateu, aos conchavos que remetem ao lamaçal da corrupção em que vivemos nas últimas décadas e que culminou com a prisão de ex-presidentes, ministros, empreiteiros e governadores.
Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos da Natureza