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Elio Migliorança

CALOTE IMPOSSÍVEL

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Escrevo este texto no momento em que o Brasil reverencia seus mortos. Quer dizer, nem todos. Embora o Dia de Finados seja um feriado religioso, os agnósticos, céticos, ateus & cia também o comemoram, aproveitando muito bem o feriado. Fiquei refletindo que a vida é o tributo que pagaremos à morte, dívida contraída ao nascermos, e a cada dia que passa mais próximo está o momento da devolução. Este é o calote impossível. Ninguém conseguirá escapar. Mais dia, menos dia, lá estará ela à nossa espera. Para alguns de vida longa ela dirá: até que enfim. Para outros a expressão será: mas já? Sim, porque alguns apressam este dia com atitudes irresponsáveis que vão ceifando vidas ainda no amanhecer da existência. Esta é com certeza a única coisa que nos torna iguais: todos morrerão. Não importa a condição social, cor, raça ou religião. E a reflexão neste dia é justamente esta. Como será e para onde iremos?
Há pregadores por aí que falam com tanta convicção e riqueza de detalhes da pós-morte, como se lá tivessem estado e depois retornado. Mesmo com o avanço científico esta fronteira é a única totalmente inescrutável para o ser humano. Só saberemos quando lá chegarmos. E não voltaremos para contar a quem ficou por aqui. Os céticos dizem que morreu… acabou. Se realmente for assim, que desperdício. Com toda sua inteligência o ser humano ter o mesmo fim que o gato e a barata. Mas se olharmos a questão do ponto de vista da fé, tudo se modifica e adquire outro sentido. Os cristãos tiveram a revelação a partir de Jesus Cristo, que deixou claro o plano de Deus a respeito do ser humano. Há vida após a morte, garantiu Jesus. Claro, os ateus negam que Jesus existiu. Não só os evangelhos atestam sua existência, como os registros do Império Romano o confirmam. E a questão central está na ressurreição de Jesus. Os apóstolos são testemunhas não só da ressurreição, mas também da ascensão ao céu. Contudo, é no relato dos soldados romanos que vem o selo da autenticidade dos fatos narrados. Sim, porque num primeiro momento eles acusaram os apóstolos de esconder o corpo de Jesus para dizer que ele havia ressuscitado. Como é que uma dúzia de pescadores teria passado por um destacamento de soldados, removido uma pedra pesando toneladas e fugido com o corpo de Jesus sem serem percebidos, se o que mais interessava aos romanos era justamente ter o corpo para negar a ressurreição? Sim, porque a ressurreição havia sido anunciada por Jesus, e com detalhes, o que aconteceu de fato. Isto simplifica o debate porque até hoje foi o único que anunciou a própria morte e ressurreição.
Enfim, com a passagem do Dia de Finados, mais uma vez nos questionamos sobre esta certeza do nosso encontro com a morte um dia. Como não há jeito de escapar, o melhor a fazer é encarar o fato com bom humor. Não dar chance ao azar para apressar o encontro. Fazê-la esperar o máximo possível, cuidando bem da saúde, não se expondo a perigos e assim talvez ela desista. E se ela não desistir, quando chegar lá diga-lhe: cheguei, mas adiei este momento o máximo possível.

* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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