Arno Kunzler
Camisa de força
O governo Temer não pode, sob hipótese alguma, dar margem para crescer a desconfiança e aumentar o tom das críticas.
E para isso não acontecer, não pode hesitar na questão fundamental pela qual o governo Dilma sucumbiu: a credibilidade e a confiança.
Temer recuou rapidamente na questão da ausência de mulheres no primeiro escalão, anunciando logo que iria nomear mulheres para postos-chave.
Uma falha política, talvez não técnica.
Temer recuou na questão do Ministério da Cultura, assim que percebeu uma certa consistência no movimento de protesto, mesmo sabendo que a sociedade está estarrecida com o que o PT fez com os recursos destinados à cultura.
Agora, vamos ver se vai resistir às acusações contra o seu principal ministro, seu articulador político no Congresso e presidente do PMDB. Vai ser difícil não demitir Romero Jucá, mas também não vai ser fácil fazê-lo.
Assim é a política, uma dia se é estilingue, outro dia vidraça…
Com o PT em pé de guerra permanente, com estudantes mobilizados por causas diferentes e com o MST a postos para incomodar o governo, Temer não pode errar.
Simplesmente o governo não pode errar e muito menos oferecer aos seus críticos qualquer aspecto relacionado à desonestidade de seus membros.
Se o governo Temer tem grandes chances de dar certo, exatamente porque a grande maioria da população esteve a favor da saída da presidente Dilma, não pode se esquecer que isso depende da sua CREDIBILIDADE.
Enquanto o governo tenta mostrar a que veio, os críticos insistentemente tentam desqualificar o presidente em exercício e sua equipe de ministros.
Mas o Brasil não pode virar uma Venezuela, com o povo nas ruas, uns defendendo um governo que já não tem mais nada a oferecer e outros tentando mostrar que é preciso mudar.
O Brasil conseguiu mudar o governo, o que a Venezuela ainda não conseguiu e dificilmente conseguirá pelos meios políticos.
Mas o Brasil não se livrou das sequelas de 13 anos de uma organização petista que, além de gerar todos os problemas financeiros que já vimos e ainda iremos ver, transformou parte da sociedade em reféns de sua ideologia.
E isso parece ser neste momento o mais grave de tudo.
O mais difícil não é montar um novo governo sob a égide da honestidade. O mais difícil é apagar da memória dos brasileiros esse ensinamento doutrinário de esquerda que, quase abertamente, defende a promoção da desordem e do constante descumprimento das leis.
Difícil é mostrar para as pessoas que foi a esquerda que deteriorou a nossa economia e acabou com as finanças públicas.
Difícil é fazer os brasileiros pobres acreditar que é melhor ter um emprego digno e saudável com possibilidade de crescimento do que viver eternamente com as míseras ajudas dos governos.
Difícil é fazer os empresários acreditar que a ferida da corrupção foi estancada com a saída do PT.
O Brasil tem jeito sim.
Mas pelo jeito o remédio é mais caro do que estamos dispostos a pagar.
Jornalista e diretor do Jornal O Presente
arno@opresente.com.br