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Silvana Nardello Nasihgil

Chegou a hora de…

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Há cinco meses eu andava livre pelas ruas de Roma, sem jamais poder imaginar que o mundo daria a volta que deu e que toda essa liberdade me seria tolhida sem qualquer escolha.

Só agora eu consigo avaliar o que é a liberdade, o que é poder escolher como viver, o que fazer, onde ir, olhar para as pessoas, sorrir e receber sorriso de volta, abraçar, olhar nos olhos, entrar e sair em qualquer estabelecimento comercial, sentar no banco da praça e poder olhar a vida acontecendo sem medo.

Pela dor eu aprendi a olhar os detalhes de tudo, o valor das pequenas coisas e parar de reclamar por bobagens sem sentido.

Pela dor eu aprendi cada dia a dar valor àquilo que importa realmente, tanto materialmente como nas relações humanas.

Pela dor estou moldando uma nova pessoa, alguém que adiciona todos os dias um pouquinho a mais de caridade, compaixão, atenção e amor.

Então, infelizmente será pela dor que vamos aprender o que a vida tenta nos ensinar todos os dias: que basta de mimimis, basta de individualismo, de falta de cuidado com os sentimentos alheios, de falta de escuta, acolhimento, caridade…

É mais do que chegada a hora de olharmos ao nosso redor e ir nos despedindo do ser humano que tinha os valores focados no ter e no ser: ser linda(o), ter corpo perfeito, bens materiais de toda a natureza, ser popular, atrair pelo visual, se permitir ser arrogante, comprar desmedidamente, satisfazer o ego, ser egoísta e grosseiro(a)… e voltarmos para o nosso interior, buscarmos o que sobrou de humanidade, caridade, solidariedade, percepção do próximo, do mundo que se vive… valorizar o nosso trabalho, os amigos leais e as nossas famílias.

É hora de irmos lá no fundo do nosso ser e buscarmos a nossa capacidade de amar e colocá-la em prática, fazermos aquelas coisas que havíamos deixado de lado: ouvir os nossos filhos, buscar a compreensão dos pares, aceitar os amigos como são, a família com suas diferenças, deixar de fazer juízo de valor de quem não pensa como nós, valorizar e descobrir como o nosso trabalho pode nos trazer felicidade, olhar para as cores da vida e ser gratos(as) a Deus pelo presente que nos dá de vivermos cada dia e podermos amar sempre mais. Amar mais a si e aos outros, amar de forma verdadeira e poder dar aos que amamos a certeza de que não estão sozinho, mas que tem parceria para dividirem a felicidade e para poderem enfrentar todas as durezas da vida sem nunca estarem sós.

É hora de termos esperanças, de levantarmos os olhos para Deus e pedir que Ele nos molde para sermos melhores a cada dia. Estamos no mundo não para fazermos peso ou para sermos só um número. Precisamos desejar ir deixando pelo caminho marcas positivas, que, quando alguém lembrar de nós, que seja pelo bem que fazemos, pela paz que semeamos e pelo amor que somos capazes de compartilhar. Esse sim será um legado humano com o poder de transformar as nossas vidas e as que tivermos a oportunidade de tocar.

 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)

silnn.adv@gmail.com

 

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