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Editorial

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O Lago de Itaipu é um dos maiores reservatórios artificiais do mundo. Sua grandeza pode ser vista do espaço, mas sua importância vai muito além de seu tamanho geográfico.Com a formação do Lago, a Itaipu Binacional passou a produzir energia que sustentava o desenvolvimento industrial e social brasileiro dos anos 80. Na época, Itaipu era responsável por mais da metade da energia elétrica consumida no país e 100% da energia do Paraguai. Ainda hoje, trata-se da maior usina hidrelétrica geradora de energia do planeta.

Para tanto, o Lago de Itaipu consumiu as terras do Extremo Oeste paranaense. Foi enchendo rapidamente com a construção da barragem e mudou completamente o cenário da região. Casas, igrejas, plantações, pequenas comunidades até então fixadas próximas ao Rio Paraná ficaram submersas. Sob a água, até hoje se escondem as terras férteis e as histórias das primeiras décadas de colonização da região.

A propaganda para vender o controverso lago, na época, falava em um turismo robusto, um reservatório farto de peixes e comunidades usufruindo de praias artificiais que o interior paranaense não gozava. Os sonhos antes submersos agora eram por uma nova era de desenvolvimento e prosperidade. As pessoas acreditaram no potencial que a propaganda vendia na época. Propaganda criada para acalmar os ânimos de quem era contra sua formação e convencer a população de que os benefícios para a região extrapolariam a geração de energia.

De fato algumas coisas deram certo, como a própria geração de energia, ou mesmo o turismo regional na década seguinte à formação do Lago. Mas tudo que era idealizado começava a ir por água abaixo, com o perdão do trocadilho. Os anos se passaram e a popularidade do gigante foi diminuindo. As praias artificiais não atraíram grandes investimentos. Hoje se resume a alguns campeonatos de pesca esportiva, e é aproveitado por uma ínfima parcela da população, durante a alta temporada, que dura em torno de três meses. No inverno, o Lago faz os municípios acumularem prejuízos com a manutenção dos terminais de lazer.

A exploração turística é quase nula, a exemplo da pesca, que não consegue gerar renda suficiente para meia dúzia de colônias de pescadores espalhadas pelos municípios lindeiros. Os esportes náuticos são para poucos. Não há pousadas, hotéis, restaurantes ou outros equipamentos turísticos que sejam prósperos por conta do Lago. Seu desempenho ficou abaixo do esperado. Hoje, ao completar 35 anos de enchente, mostra-se eficiente sob vários aspectos, mas apresenta desempenho de carro 1.0 com potencial de uma Ferrari.

A formação do Lago mudou para melhor a vida das pessoas no Oeste do Paraná. Os royalties que dele resultam são até hoje fundamentais para os municípios ribeirinhos, notadamente mais desenvolvidos do que os vizinhos mais distantes. A energia faz girar o Brasil. Mas em algum momento dessas três décadas e meia, alguém errou, tornando o Lago um grande colega de sua população, quando poderia ter sido o melhor amigo.

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