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Elio Migliorança

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Durante a década de 90 vivemos sob a expectativa do novo século e novo milênio. Faziam-se milhares de prognósticos de como seria a vida no 3º milênio e no futurista século XXI. Agora estamos do lado de cá e no décimo ano. Olhamos para trás e enxergamos longe no passado o ano 2000. Sem abordar a questão econômica, ficarei restrito à área pessoal e ao contexto social. Diziam que os dois grandes males da sociedade futura seriam a depressão e o egoísmo. Pode ser que milhares de prognósticos, alguns até catastróficos como o fim do mundo e outros menores, tenham falhado. Mas nestes dois quesitos o tiro acertou o alvo e bem na mosca.
A depressão está atingindo dimensões de epidemia. Restrita no passado a grupos bem específicos de pessoas, agora não escolhe idade ou classe social. Fala-se até em depressão infantil. Indagando diferentes pessoas, colhendo opiniões à direita e à esquerda, ouvindo ateus e devotos fervorosos, analisando os últimos 50 anos da vida em nossa região, comecei a entender as causas da depressão. A primeira luz surgiu a partir da resposta da pergunta: o que nos diferencia hoje das pessoas de 50 anos atrás? Que motivações as pessoas tinham no passado e que perdemos no tempo presente? Respondo: esperança. 
No passado, os colonizadores olhavam para o futuro com muita esperança. De colonizar a terra, torná-la produtiva, construir uma moradia digna para a família, ter um carro e, na medida do possível, máquinas para o trabalho na agricultura, tornando assim o trabalho menos sofrido, e ter dinheiro para satisfazer as necessidades da família. Tudo isso foi conquistado, com muito trabalho e esforço é lógico, e até mais do que se imaginava. Temos em nossa região um padrão de vida comparável aos países mais desenvolvidos, ressalvadas as situações de dificuldades pelas quais passa uma parcela da população que ficou à margem deste processo de desenvolvimento. O sonho tornou-se realidade. Antigamente bebia-se uma cerveja em dias de grandes festas, nos demais dias era água. Agora bebe-se mais cerveja que água. As comunicações são via satélite, crianças andam com dois celulares no bolso. Talvez aí estejam as raízes dos nossos problemas. Quais são os sonhos dos nossos jovens? O que eles esperam do futuro? O que mais resta para ser conquistado?
Antigamente uma bicicleta era um presente festejado durante meses. Agora se não for uma moto ou um carro não serve. Parece que nada mais satisfaz, e aí começa a depressão como resultado desta ansiedade na busca de novas emoções impossíveis, aliada à incerteza quanto ao futuro profissional. Além disso, as pessoas são cada vez mais egoístas. Cada um está preocupado com o seu bem-estar e com seus problemas. O horizonte fica restrito ao círculo ao redor do próprio umbigo. Os problemas dos outros, as estruturas injustas criadas pelos aproveitadores de plantão, nada disso interessa. Talvez estejamos lançando as raízes para a construção de uma sociedade refém dela mesma.
Antigamente uma ONG – Organização Não Governamental – era criada para fazer o bem aos “desassistidos pela sorte”. Hoje virou uma fonte de renda financiada por recursos públicos, muitas vezes utilizados para enriquecer espertalhões.

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