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Elio Migliorança

CRIME E CASTIGO

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Repercutiu positivamente entre a população em geral a atitude do Poder Judiciário, que, num gesto surpreendente, mandou prender parte da quadrilha comandada por um governador de Estado, isto num país onde a impunidade tem se tornado uma marca registrada, o que é lamentável sob todos os aspectos. Nunca antes na história deste país a corrupção foi tão explícita e ficou impune, como diz um “chavão” conhecido de todos, tão parecido quanto aquele do “pedágio abaixa ou acaba”, ambos utilizados para engambelar a opinião pública. Porém, esta atitude do Poder Judiciário surpreendeu a desconfiada opinião pública quando de repente o “governador” estava lá, mesmo que em cela especial, mas na cadeia. O que se ouve nas ruas são aplausos e aprovação incondicional ao desenlace da situação. Falta, segundo a opinião pública, completar a medida colocando na cadeia os demais envolvidos no mais comprovado e documentado esquema de corrupção dos últimos tempos. Serviria para desestimular todos aqueles que fossem tentados a assaltar o dinheiro público, se soubessem que ao fazê-lo seu destino seria a cadeia.
Paralelo ao aplauso pela exemplar punição, há muitas perguntas no ar. E são perguntas que precisam ser levadas em conta. Porque neste caso a Justiça foi tão rápida e eficiente, fazendo aquilo que devia ter feito em todos os outros casos de corrupção divulgados e comprovados nos últimos tempos? Quem deu e de onde saíram todos aqueles pacotes de dinheiro? Por que uma ordem judicial mantém a proibição contra o Jornal O Estado de São Paulo de publicar o andamento das investigações contra o filho do todo poderoso José Sarney? Por que no episódio do “mensalão” o Poder Judiciário não fez valer a lei e também encarcerou aqueles que comprovadamente montaram um ardiloso esquema de corrupção? Por que o “inventor” do “cofre cueca”, aquele que primeiro foi flagrado com milhares de dólares na cueca, continua livre, leve e solto, rindo da nossa cara e esnobando a lei e a ordem? Por que aquele dinheiro todo encontrado no escritório do marido de Roseana Sarney, quando ela ensaiava uma candidatura presidencial, acabou sendo esquecido e nenhuma punição foi aplicada? Que solução foi dada aos esquemas de vendas de passagens, nomeações ilegais, despesas fraudulentas e outros ilícitos cometidos pelos membros do Congresso Nacional? É então que surge a grande pergunta: teria a agilidade do Poder Judiciário sido motivada pelo fato do governador ser de um partido de oposição ao governo federal e os demais casos sido “abafados” porque envolviam políticos da base aliada do governo central?
Se a resposta for positiva aí fica desmoralizado o Poder Judiciário, porque utilizar sua força legal como instrumento partidário é gravíssimo. Excelente seria que em todos os casos o Judiciário utilizasse da legislação, e neste ponto somos melhor do que ninguém, pois temos as melhores leis do mundo, e fizesse com a mesma rapidez e eficiência, valer a lei para todos. Seria o início do fim dos assaltos ao dinheiro público. E começaríamos a passar o Brasil a limpo. Então sim poderíamos pensar em tornar-nos um país de primeiro mundo.

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