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Elio Migliorança

CRISE NA SUPERSAFRA

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O ano de 2010 será lembrado em nossa região como o ano da supersafra e poderá também ser lembrado como o ano da quebradeira geral no setor. Sim, porque temos uma equação de difícil solução. O endividamento rural é uma realidade. Sucessivas frustrações acumularam ao longo do tempo, dívidas renegociadas que estão vencendo e precisam ser pagas. A safra recorde colhida neste ano não justifica novo pedido de prorrogação. Mas os preços praticados no ano passado levaram muitos agricultores a investir assumindo compromissos na expectativa de preços iguais ou maiores que no ano passado quando a saca de soja era negociada em média a R$ 43,00. No momento a saca vale em torno de R$ 30,00 e as empresas estão pressionando os devedores a pagarem suas dívidas, enquanto os agricultores preferem esperar melhores preços. Pior, alguns fizeram negócios em sacas de soja, mas a dívida foi convertida em reais na ocasião, de modo que mil sacas de soja no ano passado equivalem hoje a mil e quatrocentas sacas, o que está deixando muitos devedores em pânico. No caso do milho a situação é pior. Enquanto a saca de soja ainda é negociada acima do preço mínimo garantido pelo governo, o milho vem sendo negociado a preços abaixo do mínimo, criando uma desconfiança e porque não dizer um calote por parte do governo, que não garante o preço mínimo. Isto faz com que o produtor adie a venda do produto, prorrogue o vencimento da dívida, que acaba acarretando juros e criando mais dificuldades para honrar seus compromissos. O questionamento é: para que existe então preço mínimo fixado pelo governo? Onde fica o “plante que o governo garante”? Como ficam aqueles que acreditaram nisso? Eis o xis da questão. Corre a “boca pequena” na cidade que nunca em outros tempos o Oficial de Justiça teve tanto trabalho. E isto acaba nos ensinando uma sábia lição, a de que um passarinho na mão vale mais do que um bando voando. Claro, pensando egoisticamente, porque um bando voando, para a natureza e a preservação da espécie têm um valor imensurável. Mas voltando à questão, estamos aprendendo uma dura lição. É melhor não comprometer o ovo antes que a galinha o bote, não fazer a dívida antecipadamente, por mais belo que seja o canto da sereia, esperar a colheita e a fixação dos preços de mercado, os quais estão baseados mais na lei da oferta e da procura do que na garantia dos governos. Só depois disso, assumir o compromisso nunca dando um passo maior do que a perna pode alcançar. Toda esta situação e a fome tributária do governo, que ao ver uma boa safra imagina estar o setor nadando em dinheiro, logo inventando novos e criativos tributos, fazem a desgraça do setor produtivo. Que o diga o Funrural cobrado durante tantos anos e agora considerado inconstitucional pelo STF. Infelizmente hoje, como nunca antes na história desse País, a prioridade um não é para quem produz, mas para quem recebe “bolsa tudo”, moeda de troca capaz de render muitos votos. Temos uma guerra interna, até o governador quer uma escolta permanente paga pelo povo e o Presidente corre o mundo querendo mediar a paz no Oriente Médio. Talvez o Presidente devesse voltar e cuidar de nosso quintal.

* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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