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Dom João Carlos Seneme

Cristo Rei: vim ao mundo para dar testemunho da verdade

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Com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, encerramos o Ano Litúrgico. O tempo litúrgico é cadenciado pela vivência do tempo da salvação em Cristo vivido na liturgia. Tem início no 1º domingo do Advento, que nos prepara para encarnação, nascimento de Jesus, e termina com o domingo de Cristo, Rei do Universo.

O Reino de Deus foi o centro da vida de Jesus: “reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. Os modelos humanos não ajudam a compreender a condição de rei aplicada a Jesus. Seu reino não depende dos esquemas deste mundo e, sim, do querer do Pai. Jesus não é um rei que se beneficia do seu “status” de Filho. Seu reinado se concretiza em doar a vida pela humanidade. O seu trono é a cruz.

O texto evangélico deste domingo (21) faz parte do processo de Jesus. Ele está diante de Pilatos, sendo acusado de malfeitor pelas autoridades do seu povo. É um processo injusto sob o ponto de vista jurídico e humano. Pilatos zomba de Jesus e questiona o seu reinado com arrogância querendo humilhá-lo. Jesus, porém com toda autoridade, que o seu reino não é deste mundo, porque não se enquadra nos padrões mesquinhos de luta pelo poder, conchavos e corrupção; que se beneficia do sofrimento dos pobres, que escraviza. O Reino de Deus não contém um projeto político, ele é sinalizado pela doação da vida de Jesus para salvação de todos. Portanto o critério do Reino que Jesus prega é o amor cuja fonte se encontra no Pai.

O cristão dá testemunho da realeza de Jesus quando se faz peregrino da terra, no meio dos reinos humanos, fazendo justiça e verdade. No entanto, as palavras de Jesus a Pilatos mostram também o outro lado do poder: aquele que está repleto de belas palavras como justiça e paz, mas na realidade busca seus próprios interesses. O poder humano geralmente é gerado pela competição e pelo desejo de prevalecer à custa de tudo e de todos. O reino de Deus, por outro lado, é construído na verdade e não tem outra finalidade senão o serviço da verdade. Jesus descreve a sua função real em termos de testemunho da verdade: eis a grande novidade cristã. Não é por acaso que o Evangelho de João proclama a plena realeza de Jesus apenas na cruz. É a morte por amor (cf. Jo 13,1) que revela plenamente o verdadeiro sentido da realeza de Cristo.

Nossa Diocese se encontra em festa porque celebramos nosso padroeiro, Cristo Rei. Neste dia somos convidados a agradecer pelo amor de Jesus que nos libertou do egoísmo e da morte; e somos convidados a ter a mesma atitude de Jesus, substituindo os esquemas de egoísmo, de poder e de prepotência, pelo amor que se faz concreto no serviço e na doação aos irmãos. Esta celebração nos leva a pensar como estamos vivendo a experiência do Reino em nossas comunidades à medida que somos obedientes a Deus. Não podemos reproduzir entre nós a busca pelo poder, honras e privilégios. Nossa meta deve ser o serviço aos mais fracos e a prática da misericórdia para com os pecadores.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

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