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Elio Migliorança

D.R.U. E A LINHA BRAÇO DO NORTE

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Um padre enviou e-mail e comentou a análise feita semana passada sobre a estupidez da “nova lei seca”. Lembrou ele que corre o risco de ir da igreja direto para a cadeia. Sim, porque tem missa na matriz às 08h30 e às 10 horas na capela. A celebração inclui vinho e, se ao sair da igreja, encontrar uma blitz na próxima esquina e ali um policial querendo mostrar serviço, o teste do bafômetro acusará álcool no sangue e, como a nova lei prevê tolerância zero, ele estará preso. Isto ajuda a confirmar a estupidez daquela lei.
O tema que é título desta coluna não é novo. Em 24 de outubro de 2007 abordei o mesmo tema com o título “D.R.U. – O Golpe”, e quando achávamos que aquele golpe já era do passado, com data marcada para morrer, eis que ele foi ressuscitado, e está em tramitação no Congresso sua prorrogação até 2015. Por que ele é tão importante e o que isso tem a ver com a Linha Braço do Norte?
Para responder, voltemos ao passado. Anos de 1987 e 1988. Estava em discussão no Brasil um tema inédito: discutia-se a nova Constituição brasileira. E a luta dos municípios para incluir na Constituição uma porcentagem maior de repasse de tributos para Estados e municípios. Isto porque o governo federal sempre ficou com a maior fatia do bolo, e às vezes com o bolo todo. Uma república pressupõe partilha justa de impostos. Muitas caravanas de prefeitos foram a Brasília e conseguimos um avanço significativo, aumentando o valor do repasse para Estados e municípios. É justo, afinal, a vida acontece nos municípios. Nada mais justo que os recursos cheguem onde está a ponta mais fraca da corda. Com isso a vida nos municípios melhorou muito, mas o governo federal não se conformou e em 2007 foi aplicado o golpe que agora vai ser prorrogado para 2015. O governo federal tira 20% de tudo o que é arrecadado para gastar como quiser e só distribui os 80% restantes. Por isso o nome: Desvinculação das Receitas da União (DRU). E é por isso também que estão acontecendo tantos escândalos de corrupção em Brasília. Há tanto dinheiro e tão pouca punição que a tentação acaba vencendo o medo e a vergonha na cara. E aí o povo da Linha Braço do Norte, o ponto mais distante do município, região da encosta do Rio Guaçu, onde vive um povo trabalhador que enfrenta muitas dificuldades, quando chegar na prefeitura buscando atendimento para suas necessidades, provavelmente vai bater com a cara na porta, pois não haverá recursos porque o dinheiro foi usado para a “governança com flexibilidade” em Brasília. Foi isto que respondeu o líder do governo, deputado Vaccarezza, quando perguntado sobre o porquê da desvinculação. Ele deu a dica dizendo: “para permitir que o governo tenha massa de flexibilidade para usar uma massa de recursos significativa para proteger o nosso país”. Afinal, proteger de quem?
Precisamos nos proteger dos nossos políticos, e quanto mais dinheiro na mão deles, maior é o risco de sermos assaltados. A flexibilidade a que ele se refere deve ser dinheiro para comprar apoios e votos nas próximas eleições, “flexibilizando” assim a consciência das multidões. Linhas “Braço do Norte” existem em todos os municípios brasileiros.

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