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Dom João Carlos Seneme

De mendigo a discípulo

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A história deste domingo começa e termina na “estrada”. É lá que Bartimeu percebe a presença de Jesus, e é ali que ele será curado. “Seguindo Jesus no caminho”, lembra expressões usadas frequentemente no Novo Testamento com o sentido de “ser ou tornar-se um discípulo”. A pergunta de Jesus – “O que quer que eu faça por você?” – é a mesma que Ele fez para Tiago e João domingo passado. A diferença está na resposta. Os apóstolos querem poder e prestígio. O cego, por outro lado, pede simplesmente que Jesus realize um dos sinais da presença do Reino de Deus. Domingo passado, o homem rico foi incapaz de renunciar à sua riqueza, hoje o cego renuncia ao seu manto, sua única riqueza que o impede de se aproximar de Jesus.

A passagem de hoje também nos ajuda a refletir sobre a fé, principalmente quando ela começa a definhar e não sabemos como agir. Muitas vezes nos colocamos no lugar de Bartimeu: sentado à beira do caminho, sem forças para seguir Jesus. Bartimeu não se deixou intimidar quando lhe pediram para ficar quieto e não incomodar o Mestre; ele se impõe, grita e se faz ouvir. Reconhece o seu pecado e pede que Jesus intervenha e lhe dê a vida novamente. Quando sente que Jesus parou e o ouviu não se sente mais sozinho. Três atitudes são fundamentais para aderir à nova vida oferecida por Jesus: Bartimeu joga o manto fora porque ele o impedia de chegar perto de Jesus. Depois, embora ainda não veja direito, dá um salto decisivo para ficar perto de Jesus. São atitudes que muitas vezes precisamos tomar: desatar as amarras que emperram a nossa fé, tomar uma decisão e nos colocar diante de Jesus com confiança simples e renovada. Por fim, perto de Jesus, Bartimeu sabe muito bem o que ele quer: “Mestre, que eu possa ver novamente!”. “No mesmo instante recobrou a visão e o seguia pelo caminho”. Receber a luz de Jesus é a certeza de que tudo pode mudar.

É por isso que este episódio da cura de Bartimeu é significativo, pois ilustra a presença salvífica de Jesus e a resposta na fé confiante em sua misericórdia. Jesus ouve o clamor dos sofredores e vai ao seu encontro.

O grito de Bartimeu – “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim” – revela um Messias cheio de compaixão. Este grito toca o coração de Jesus e garante que nenhuma súplica cai no vazio; mesmo em meio ao maior barulho e no tumulto de tantas vozes, o Senhor nos escuta. A glorificação de nosso rei se dará no topo da cruz, onde ele será proclamado verdadeiro rei dos judeus e herdeiro de Davi. Será que aceitamos o modo de ser de Jesus, seu estilo de vida, as condições que ele exige de quem quer segui-lo? Somos capazes de pôr de lado os nossos “mantos”, “dando um salto” para encontrar Jesus? Quantos sinais precisamos para abrir os olhos do nosso espírito para vê-lo, a Luz do Mundo, como nosso Senhor e Salvador? Peçamos ao Senhor que nos faça fortes e corajosos para continuar seguindo seus passos, insistindo na vida em comunidade e transformando o mundo ao nosso redor.

 

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

 

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