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Dom João Carlos Seneme

Deixo-vos a paz, a minha paz Eu vos dou

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O texto do Evangelho deste domingo (22) (Jo 14,21-29) nos prepara para a Ascensão e Pentecostes. O texto faz parte do longo discurso de Jesus na noite em que Ele é preso. Antes da sua paixão e morte, Jesus se dirige pela última vez aos seus discípulos. São palavras cheias de intimidade e ternura que querem confortar, encorajar os discípulos. Constitui também um momento de reflexão porque a partida ou a morte tornam-se um momento de recordação, mas também de entregar aos discípulos a continuidade da missão. Caberá aos discípulos e aos cristãos dar testemunho da cidade de Deus no meio da humanidade.

No dia Pentecostes, Ele enviará o Espírito Santo: “O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que Eu vos tenho dito”. Ou seja, Ele estará conosco todos os dias. O Espírito será o animador da comunidade que aceita continuar a missão de Jesus. Este é o testamento espiritual de Jesus. É o novo mandamento que Ele deixou: ser sinal de unidade, estar atento às necessidades de todos os irmãos, cuidar da casa comum e glorificar o Pai que nos consola em nossas aflições.

Outro dom do Ressuscitado para sua comunidade é a paz. Na compreensão judaica, “shalom” indica muito mais que bem-estar. A paz não pode ser confundida com ausência de conflitos, tranquilidade interior. Jesus ressalta que a sua paz não é igual àquela que o mundo dá (em São João o “mundo” aponta para os inimigos de Jesus). A paz de Jesus é estar unido a Ele assumindo, sem medo, o seu projeto de vida: continuar a disseminar por todos os cantos do mundo o plano salvador de Deus, realizado por Jesus e continuado pela comunidade cristã. Para humanizar o mundo em que vivemos será necessário semear a paz, não a violência; promover o respeito, diálogo e a escuta mútua; acolher o diferente e procurar conviver em harmonia.

Não é qualquer um que pode semear a paz. Com o coração cheio de ressentimento, intolerância e dogmatismo é possível mobilizar as pessoas, mas não é possível promover a paz que vem de Deus.

A paz que Jesus doa, logo depois de evocar o Espírito Santo, não é simplesmente um desejo ou uma promessa, mas implica em garantia que exige compromisso, que os discípulos deverão proteger e aumentar porque a cidade dos homens deve ser semelhante à nova Jerusalém, nossa mãe.

Participar da ceia eucarística é receber do próprio Jesus o mandamento do amor e o dom da paz. Na celebração da missa, o Senhor renova o seu amor pela humanidade na partilha da palavra e do seu corpo e sangue. Tudo isso em vista do bem de todos, simplesmente motivado pelo amor ao projeto do Pai e por cada um de nós.

A vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes deveria provocar em nós um renascimento, de modo que aprendamos a recorrer sempre ao Espírito Paráclito, aquele que vem em nosso socorro, nos defende, nos consola. Só Deus pode nos garantir a felicidade eterna, ela é dom para quem crê e molda sua vida no seguimento de Jesus Cristo animado pela vida nova, dom do Espírito Santo.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

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