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Elio Migliorança

DEPRIMENTE

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O Natal se aproxima e o natural seria enviar mensagens positivas nas quais os problemas do cotidiano fossem esquecidos e fazer de conta que o mundo está maravilhoso e consolar-nos com a ideia abominável de que em outro lugar está pior. Nada mais desumano do que consolar-se com a desgraça dos outros, principalmente quando esta desgraça é provocada pela covardia daqueles que detêm o poder e deveriam utilizá-lo para promover o bem comum. Observei na última semana algumas cenas deprimentes. Cidadãos brasilienses foram pisoteados pelos cavalos do Governador Arruda porque protestavam contra a corrupção. Tem algo mais deprimente e criminoso? São cidadãos que respaldados no direito de se manifestar estão pedindo que os governantes criem vergonha na cara e sejam no mínimo “humanos” porque humano é não corromper-se. Na semana passada já abordei este tema. Mas a indignação é tanta que não consegui conter-me. Tinha que reagir e gritar de novo, mesmo sabendo que este grito ecoará no silêncio do nada e não terá efeito prático. É lamentável que a polícia tenha que se sujeitar a este tipo de ordem. Foi covardia, as pessoas estavam pedindo justiça, ética, honestidade, decência no exercício do poder e foram atacadas pela polícia com gás de pimenta, balas de borracha e bombas de efeito moral. Aliás, aqui vai uma sugestão. Se utilizassem bombas de efeito moral dentro dos gabinetes em Brasília, tanto do Governo Distrital como Federal, será que elas fariam elevar a moral dos governantes? Não podiam ser criadas também bombas de efeito ético? Bombas de efeito vergonhoso? Talvez aumentassem a vergonha na cara. Não entendo porque o nome “bombas de efeito moral”. E aí sou obrigado a ouvir uma propaganda institucional, paga com nosso dinheiro, feita pelo Ministro Chefe da Controladoria Geral da União o Sr. Jorge Hage Sobrinho, enaltecendo o grande progresso ocorrido neste governo no combate à corrupção, sabendo que o presidente da república está enviando ao Congresso projeto para restringir os poderes do Tribunal de Contas da União, que tem denunciado ultimamente muitas “maracutaias” na construção das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aquele programa “parido” por aquela mãe que pretende ser a mãe da nação brasileira. Deprimente a cena de um motorista de ambulância com uma criança prematura nos braços que após três horas de espera resolveu bloquear o tráfego no centro de São Luiz (MA), atravessou a ambulância na rua e pôs-se a gritar denunciando a falta de atendimento e o risco de morte da criança. Deprimente a cena de uma mãe na recepção do hospital com o filho morto nos braços, falecido pelo atraso no atendimento após cinco horas de espera. Nunca antes na história deste país estes problemas são tão antigos e nunca foram resolvidos. Por isso resolvi encerrar com uma frase enviada por uma leitora, analisando a coluna da semana passada, a qual ponderou: “só acho que faltou, no final que se inicia pela frase “é preciso reformar a consciência dos nossos políticos”, tinha que acrescentar “conscientizar o povo que, mesmo diante de tanta barbaridade no cenário político, reelege esses canalhas”.

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