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Editorial

Derrubaram o saleiro na carne

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O consumo de carne per capita no Brasil pode ser considerado alto: por ano, a média é de 45 quilos de frango, 30 quilos de carne bovina, 15 quilos de carne suína e dez quilos de peixe, aproximadamente. Isso muda de região para região. Por exemplo, no Estado do Amazonas, o consumo de peixe supera 50 quilos per capita/ano. Já o consumo de carne bovina, por lá, é bem menor que a média.

E quem vai ao mercado sabe o quão apavorante está sendo passar na frente do açougue. E não é de hoje. No segundo semestre do ano passado, a alta nas carnes foi visível. A arroba do boi, que em dezembro de 2019 era negociada perto dos R$ 200 (com sorriso largo do produtor), passou de R$ 300 há poucos dias. Essa alta pode ser explicada, entre outros motivos, pelo custo de produção que ficou maior, pelas expressivas vendas para o mercado externo, especialmente para a China, e pela menor oferta de boi magro no rebanho brasileiro.

O preço do frango e da carne suína, que são mais acessíveis, também disparou. Assim como a carne vermelha, muito por conta do aumento dos custos de produção, que estão intimamente ligados aos custos do milho e da soja, principais ingredientes na dieta dos animais, que atingiram patamares históricos e representam cerca de 70% dos custos totais.

A alta do dólar, que estimula as exportações, e a alta dos combustíveis, que impacta nos preços de insumos e defensivos agropecuários, também favoreceu e favorece essa alta.

Para o agronegócio, apesar dos custos elevados, é um cenário favorável. Para o consumidor, que usa a carne quase que diariamente em suas refeições (presunto, salsicha, bacon, entre outros embutidos, também são carne), não é nada interessante. É hora de repensar aquele churrasco porque derrubaram o saleiro na carne.

E para o consumidor brasileiro as perspectivas não são das melhores. A tendência é de que o preço permaneça com viés de alta por vários meses, assim como as commodities agrícolas. Ou seja: a carne vai continuar cara.

As perspectivas indicam também que neste ano a produção, o consumo e a exportação de carnes deve aumentar, especialmente em alguns setores. A média de consumo do Brasil não deve ser tão alterada, mas certamente os cortes mais nobres estão e vão continuar dando espaço àqueles mais em conta.

O consumidor que vai ao supermercado sente na pele, ou no bolso, a alta dos alimentos, não somente das carnes. Arroz, feijão, produtos de higiene e limpeza, tudo ficou mais caro e bem acima da inflação oficial.

A pandemia também tem um papel preponderante nessa instabilidade que tem feito do açougueiro o carrasco, o algoz do supermercado. O Brasil precisa urgentemente acelerar a vacinação contra a Covid-19. Só com o controle da pandemia é que os mercados finalmente devem se acalmar e não causar tantas turbulências nos cenários interno e externo. O mundo precisa da vacina. Aos poucos, as coisas devem acontecer. Mas até lá, o filé mignon tem que dar lugar ao filé agulha.

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