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Elio Migliorança

DESALOJADOS DA LINHA BAIXADA

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Estava na cidade de Chapecó (SC) e, ao parar no semáforo, percebi um senhor parado ao lado do carro com uma tira de papel na mão. Achei que era um vendedor ambulante ou um pedinte com uma história comovente para tirar dinheiro dos incautos. Não era nada disso. Um senhor, com rosto sofrido e amargurado, estendeu-me um papel e antes que o sinal abrisse conseguiu murmurar algumas palavras: “precisamos de ajuda, o governo acabou com nossa vida. Ajudem-nos”. O semáforo abriu e não tive alternativa senão seguir adiante, mas aquelas palavras do homem de rosto sofrido ficaram martelando na minha cabeça. No fim do dia pude analisar o papel com poucas linhas, mas de um significado profundo. Dizia: “Desalojados da Linha Baixada. Ronda Alta-RS. Doze anos sem solução. O assunto está na internet”. Duas coisas me incomodavam. O pedido de socorro que não podia ser ignorado e as recentes invasões indígenas em Guaíra e Terra Roxa, que colocam o Oeste do Paraná na rota de um conflito armado. O que se sabe é que índios estão sendo mobilizados de outras regiões para fazerem presença e pressão para tomar as terras de seus legítimos donos. Fui à pesquisa indicada no bilhete e lá estava. Em 2000, mais de dois mil agricultores da Linha Baixada, em Ronda Alta (RS), tiveram suas terras desapropriadas para demarcação de terras indígenas. Nesse tempo muitas famílias foram assentadas, mas 175 famílias ainda esperam uma solução. Um dos defensores dos agricultores, o Dr. Rodinei Candeia (procurador do Estado do Rio Grande do Sul), falando da questão, entre outras coisas, afirma: “Nunca houve prova de que as terras eram indígenas, e os índios foram estimulados por órgãos oficiais e ONGs a invadir as terras. Todo tipo de violência foi praticado contra os colonos, como ameaças de morte, estupros, incêndios, a ponto dos colonos desistirem de lutar para se manterem nas áreas. Tudo isso ocorria com a omissão criminosa das autoridades do Estado, que proibiram a Polícia Militar de ir proteger os colonos. Além disso, a ocupação pelos indígenas foi também apoiada por um grupo de grandes fazendeiros que posteriormente arrendaram as terras e as estão explorando até hoje, mediante a corrupção das lideranças indígenas. Retiraram centenas de famílias de colonos que estavam no local há 60 ou 80 anos para transferir a exploração para outros agricultores brancos. O gerenciamento da questão indígena pela Funai é um desastre, e as demarcações de terras viraram uma farra”.No Paraná, o senador Roberto Requião, em recente pronunciamento no Senado, invocou a Carta Régia de 1808 para dizer que o Brasil está em guerra contra os índios, e chamou os produtores rurais de “elites fazendeiras” incapazes de superar o “antigo hábito de matar índios”. Senador, quem está invadindo são os índios, os agricultores compraram e pagaram suas terras, possuem documentos. Ao invés de atirar contra os agricultores, atire conta o governo que o Senhor defende. Queremos que os índios sejam tratados com dignidade também, é para isso que pagamos tantos impostos. Se houver menos corrupção, haverá recursos e terra suficiente para garantir vida digna para todos. Descobri que Dalcir Peruchini é o nome do homem de rosto sofrido que clama por justiça nas ruas de Chapecó.
* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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