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Arno Kunzler

Desastre do passado

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O episódio do adiamento para as novas concessões de rodovias do Paraná nada mais é do que uma leitura antecipada do desastre passado, quando Jaime Lerner colocou em funcionamento as praças de pedágio no ano de sua reeleição.

Atacado por Requião, que em alto e bom tom dizia “ou abaixa ou acaba”, o que mais tarde com ele governador ficou provado que não passou de bravata eleitoral, Lerner foi obrigado a tomar uma atitude drástica para não perder a eleição.

Há um mês das eleições, baixou um decreto estadual reduzindo 50% dos valores do pedágio.

Tanto Lerner como Requião sabiam que os contratos firmados estariam protegidos por lei e que suas discussões públicas não passavam de um espetáculo para a torcida, no caso, nós, contribuintes e usuários das rodovias.

As concessões, cujos leilões estavam previstos para este ano ou início de 2022, teriam seu início justamente às vésperas da próxima eleição.

Com a mobilização dos eleitores e do empresariado que tomou posição contrária, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, certamente em acordo com o presidente Bolsonaro e o governador Ratinho Junior, decidiu postergar o processo licitatório.

A decisão é corretíssima.

Não se pode discutir um assunto de tamanha complexidade e compreensão tão delicada durante o calor de uma campanha eleitoral, sob pena de repetir o que aconteceu na década de 90.

Naquela época as discussões políticas só contribuíram para que as obras previstas não fossem realizadas e jamais que os valores cobrados fossem reduzidos de verdade.

Essa discussão, como hoje sabemos, rendeu elevadas taxas de corrupção envolvendo políticos de quase todos os níveis e partidos diferentes.

Uma história que o Paraná não merece repetir.

É muito mais sensato deixar que o novo governo, ou os atuais reeleitos, façam um processo licitatório sem as pressões de uma campanha eleitoral em curso e encontremos a melhor forma para financiar as obras que tanto precisamos, com valores que podemos pagar.

Jamais vamos encontrar um valor que seja justo para o pedágio, já que o “justo” para mim não é necessariamente justo para os outros.

O que devemos encontrar, e precisamos encontrar, através de estudos e planejamento de longo prazo são valores necessários.

O pedágio não é algo bom, nunca vai ser do agrado da população, mas é algo necessário para que tenhamos obras de ampliação e melhorias constantes da malha viária.

Simples assim.

 

Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente e da Editora Amigos

arno@opresente.com.br

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