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Arno Kunzler

Diferença de protestos

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Os protestos realizados no Brasil antes da Copa das Confederações, cujo objetivo principal era demonstrar a revolta das pessoas com os elevados gastos com a Copa e chamar atenção para as obras inacabadas, também eram semelhantes ao realizado no dia 15 de março de 2015.

Um protesto contra os governos de várias esferas e políticos de modo geral, contra as instituições que deveriam fiscalizar e não fiscalizam, contra o jeito de se fazer política no Brasil.

Um movimento, em tese acéfalo, sem pai e sem mãe, mas com forte apelo popular, já que não tinha líderes e nem liderados.

Um movimento com imensa capacidade de mobilizar gente, mas incapaz de apresentar uma pauta que fosse a razão das pessoas estarem ali.

Assim, surgiu de repente e da mesma forma se esvaziou sem deixar patrimônio, nem legado.

Ninguém capitalizou os protestos, ninguém se consagrou perante a opinião pública.

Tanto é verdade que o governo Dilma, alvo de quase todas as críticas, foi reeleito, ainda que numa eleição que não consagrou os vencedores.

Dilma Rousseff e o PT conquistaram o mandato, derrotados, mais derrotados do que o segundo colocado. Incrível, mas é assim mesmo.

Derrotados nos centros mais importantes do país e dentro da própria aliança, o que está mais claro a cada dia que passa.

O PMDB governa e o PT, partido da presidente Dilma, aos poucos, está mais para oposição do que para situação.

Todavia, a diferença entre os protestos deste domingo (12), para os anteriores, é que agora o movimento tem um comando, ainda que dividido, ainda que fragilizado, mas é um comando.

Mesmo questionado, alguns líderes começam a despertar que é preciso capitalizar o descontentamento dos eleitores em intenção de votos para alguém…

Caso contrário, os protestos darão no mesmo, as pessoas insatisfeitas não terão opção de escolha nas próximas eleições.

A diferença entre o movimento de agora é que este tem um comportamento mais ou menos linear em todos os eventos, segue um discurso e uma pauta. Está mais organizado, se é que isso é bom…

Os que protestam agora simplesmente não toleram bandeiras do PT, do comunismo ou qualquer outro simbolismo que não seja BRASIL. É uma grande diferença.

Se haverá algum político dos atuais a ganhar com isso ainda é cedo para prever. Mas quem souber embarcar nesse movimento sem descaracterizá-lo como movimento suprapartidário, mas, ao mesmo tempo, dando-lhe um rumo, um norte e alguém com credibilidade para seguir, tem grande chance de se tornar um presidenciável nas próximas eleições.

É mais fácil que alguém sem rótulos, sem passado questionado assuma o comando e levante essa bandeira. Mas também não se pode descartar a possibilidade de que dentro do atual quadro político surja alguém com um discurso afinado e direcionado para o momento que vivemos e seja guindado à condição de líder nato desse movimento saudável que deseja influenciar positivamente a atividade política no país.

É bom lembrar que recentemente tivemos políticos, militantes com passado, que foram assumindo e se engajando em movimentos de insatisfação popular.

Em meados da década de 80, Tancredo Neves, um político com mais de 50 anos de militância, conquistou os brasileiros se tornando o primeiro presidente civil, eleito pelo Congresso, após o regime militar. Tancredo incorporou o discurso pela redemocratização do país e pela Constituinte.

Em 1989 surgiu um fenômeno chamado Fernando Collor de Melo, com um discurso de combate aos marajás. E foi eleito presidente, derrotando grandes líderes da época, como Brizola, Mário Covas, Ulisses Guimarães e o próprio Lula.

Depois surgiu Fernando Henrique Cardoso, sem carisma nenhum, mas com o Plano Real embaixo do braço.

Lula chegaria ao apogeu da sua liderança no início deste século, quando propôs combater a miséria, romper com o modelo tradicional da política econômica e defender que o trabalhador tinha direito a beber uma cervejinha com o fruto do seu trabalho.

Na mesma direção, aproveitando o descontentamento do povo com o PT, “quase” vimos surgir um novo líder nas últimas eleições, chamado Aécio Neves. Pode ser que seja ele o condutor desse processo daqui por diante, mas também pode ser que a oportunidade passou. Como diz o ditado, “cavalo encilhado não passa duas vezes”.

 

* O autor é jornalista e diretor do Jornal O Presente

arno@opresente.com.br

 

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