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Tarcísio Vanderlinde

Dirigente omisso

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Os escritos bíblicos apresentam Pôncio Pilatos como símbolo de dirigente político omisso. A alcunha decorre da forma como Pilatos conduziu o julgamento de Jesus. O historiador Flávio Josefo, entretanto, registrou outras características daquele governador.

No intuito de agradar o imperador romano, do qual era subordinado, Pilatos determinou que tropas romanas transferissem estandartes e a imagem do imperador, de Cesareia (centro administrativo) para a cidade santa de Jerusalém. Temendo algum tipo de reação, as tropas procederam a mudança das insígnias na calada da noite.

Ao perceber a presença de ícones do império na cidade, os judeus foram em grande número até Cesareia para reclamar com Pilatos. O governador tentou manter sua decisão diante da grande insistência dos Judeus e ameaçou matá-los caso insistissem em seu propósito, e se não voltassem imediatamente cada qual para sua casa. O tiro saiu pela culatra.

Diante das palavras de Pilatos, os reivindicantes lançaram-se por terra e apresentaram-lhe a garganta descoberta demostrando com essa atitude que a observância às leis religiosas era um valor mais caro do que a própria vida. A atitude pegou Pilatos de surpresa, sendo que não teve outra alternativa a não ser determinar que se trouxessem os estandartes de volta à Cesareia.

Noutra oportunidade o governador voltou a criar revolta entre os judeus por ter retirado recursos do sagrado tesouro para construir um aqueduto em Jerusalém. Josefo observa que o estado de revolta foi tão acentuado que muitos se dirigiram a Pilatos com palavras injuriosas.

Tentando esvaziar o tumulto, Pilatos ordenou que os soldados rodeassem a multidão com cacetes escondidos debaixo das túnicas. Quando as injúrias se aguçaram, Pilatos ordenou que os soldados atacassem os manifestantes.

De acordo com Josefo, “eles (os soldados) não somente obedeceram, mas fizeram mais do que ele (Pilatos) queria, pois deram pancadas nos sediciosos e nos indiferentes, e como os judeus não estavam armados, muitos morreram, muitos foram feridos e a sedição terminou”.

Uma denúncia referente a assassinatos de líderes da minoria samaritana encaminhada ao governador da Síria (hierarquicamente superior a Pilatos) acabou levando a demissão de Pilatos, sendo este obrigado a dirigir-se a Roma para justificar-se diante do imperador.

Para além de Josefo, existem fontes que afirmam que a experiência vivida por Pilatos durante o julgamento de Jesus o teria impactado a ponto de ele e a esposa terem se convertido ao cristianismo mais tarde.

Curiosamente, Pilatos é reverenciado na igreja copta, uma igreja cristã minoritária com sede no Egito e presença marcante no Oriente Médio.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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