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Elio Migliorança

DOIS EXTREMOS

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O Oeste do Paraná é notícia constante pela sua importância econômica e posição geográfica estratégica. A produção por aqui alcança os melhores índices nacionais. Mas, nas últimas semanas, fomos notícia por conta de um projeto cômico da Câmara de Vereadores de Cascavel, concedendo o título de cidadão honorário a Fernando Lugo, presidente do Paraguai. Nada contra a pessoa dele. Afinal, o que é um título de cidadão honorário?
Sempre acreditei ser uma honraria concedida a alguém que tenha prestado relevantes serviços a uma comunidade, sem remuneração, porque se remunerado o homenageado não fez mais do que a obrigação. É por isso que governantes & Cia não devem ser agraciados com tal honraria, afinal, são pagos e muito bem para trabalhar pela e para a comunidade. O que recebemos dos governantes é um direito pelos impostos pagos. Infelizmente a honraria tornou-se uma forma oportunista para vereador aparecer. É o caso em questão.
O que fez ele para Cascavel? Seu governo “convidou” muitos brasiguaios a voltarem ao Brasil e isso ampliou o colégio eleitoral local? Ou sua maior obra está no questionamento do valor pago pela energia de Itaipu? Caso vença, todos pagarão mais pela energia. Onde está o mérito para a concessão da honraria? Ou o Legislativo cascavelense apenas quis aparecer?
Há um título de cidadão honorário esquecido no fundo de uma antiga gaveta da Câmara de Nova Santa Rosa. Um governador foi agraciado com a honraria, mas, como o autor do projeto era um vereador de oposição ao governador, o título nunca foi entregue. Este é o lado patético de certas decisões legislativas. Com tantas causas importantes no Oeste pelas quais os vereadores deviam lutar, perdem tempo com inutilidades.
Agora vamos ao outro extremo. O extremo da esperteza. Há um projeto em andamento no Congresso Nacional, o qual propõe o fim da cela especial para quem tem curso superior. Contudo, ao invés de extinguir simplesmente tal privilégio, o Congresso reserva este benefício apenas para os políticos. Do vereador ao presidente da República, passando pelo Judiciário, todos conservam a mordomia. Logo os políticos. Uma das classes que mais se desmoralizou nos últimos anos, agora parece querer colocar uma pá de cal sobre o pouco de prestígio que ainda possui. É uma afronta a todos nós. Onde está o respeito à Constituição que estabelece direitos iguais para todos?
Justamente aqueles que ocupam cargos eletivos é que deviam descer ao fundo dos infernos das penitenciárias, quando cometem algum crime, afinal, quanto maior a responsabilidade e o poder, mais grave torna-se o crime cometido. Para estes devia ser ainda cassado o direito à redução da pena, deviam ser obrigados ao cumprimento integral em regime fechado, quando condenados. Aliás, condenações raríssimas dentro da classe política. Ao contrário, muitos políticos afastados de suas funções por corrupção são depois premiados com um cargo no governo. Esperamos que a banda decente do Congresso consiga vencer a banda podre e rejeite tal projeto. Seria o renascer da esperança se acordássemos e o projeto tivesse sido rejeitado. Cela especial não devia existir para ninguém.

* O autor é professor em Nova Santa Rosa

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