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Arno Kunzler

E A QUALIDADE DE VIDA?

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Uma entidade resolveu fazer pesquisas e proclamar diversas cidades do país numa espécie de ranking sobre qualidade de vida.

Pois bem, vejamos se a análise sobre “qualidade de vida” pode ser considerada algo tão importante como está sendo propalado.

Marechal Cândido Rondon ficou em 18º lugar entre as cidades pequenas (com até 50 mil habitantes).

Talvez esteja aí um dos problemas da pesquisa, não somos nem uma cidade pequena e nem podemos ser consideradas grande, pelo critério de 50 mil habitantes.

Estamos no limite, temos 50.808, se tivéssemos 51 mil, talvez os critérios fossem bem diferentes.

Mas para classificar uma cidade, com algum critério, como 18ª melhor do Brasil em qualidade de vida, talvez necessitemos algumas conquistas que hoje infelizmente não temos, embora, indiscutivelmente, Marechal Cândido Rondon seja uma cidade interessante para se morar, digamos, com excelentes condições para viver.

Mas essas condições vêm muito mais da organização social, religiosa, educacional e associativista do que da infraestrutura pública.

Mas vamos apenas fazer um apanhado de questões que certamente foram ou pelo menos deveriam estar contempladas num estudo desses.

-1 Rede coletora de esgoto. Não podemos dizer que o município tem. É verdade que está em fase de implantação, mas grande parte da cidade não tem.

– 2 Qualidade na distribuição de água. Se conquistamos a autossuficiência como o Saae anuncia, é prudente testar primeiro. Não é a primeira vez que o Saae anuncia que temos água garantida para 20 anos e na primeira seca o sistema falha. Não podemos esquecer que passamos vários meses do último verão com sérios problemas de abastecimento.

– 3 Segurança. Ganhamos o Batalhão de Polícia de Fronteira, é verdade, mas e a nossa cadeia? O que é aquilo? E não conseguimos unir forças para sequer construir uma cadeia para 120 presos provisórios… É preciso saber se esse item é ou não importante nessa questão. Outro fato é que os furtos e roubos não são índices de cidade com qualidade de vida superior.

– 4 Transporte coletivo. Temos? Aí vem a questão. Talvez, se fôssemos cidade pequena, tipo dez mil habitantes, esse item não seria importante, mas para uma cidade com 50 mil habitantes é. E não temos.

– 5 Saúde pública. Temos? Sim, temos gente esforçada trabalhando para isso, mas não podemos dizer que nossa saúde pública merece aplausos. Senão vejamos: onde nossas mães que precisam da rede pública de saúde vão ter seus filhos? Em Toledo ou, se não tiverem sorte de chegar, numa ambulância. Enquanto isso o único hospital que atendia pelo SUS está fechado e o psiquiátrico acabou de fechar também. E o Hospital Municipal construído para resolver isso, não resolveu.

– 6 Serviços médicos. Para a maioria das especialidades, mesmo quem tem convênio médico, demora em torno de dois meses para agendar uma consulta. Isso é qualidade de vida?

– 7 Trânsito. Será que nosso trânsito está bem organizado? Talvez não temos grandes reclamações nesse setor porque todos foram atendidos. Quem pediu lombada ganhou, quem pediu estacionamento oblíquo ganhou e assim vamos remendando. Mas não há um plano de trânsito que funcione e que as pessoas da cidade aceitem e aprovem. Está para ser implantado, mas ainda não foi.

– 8 Caminhões. Por onde passam os caminhões carregados de suínos, frangos e soja? No centro da cidade. E não há como desviá-los porque faltam contornos.

– 9 Lazer. Em que estado estão e que atrativos oferecem nossos parques de lazer? Antes da gente se empolgar, é bom dar uma olhadinha no Parque de Lazer em Porto Mendes e em algumas praças da cidade.

– 10 Urbanização. Como estão nossas calçadas que deveriam servir para os pedestres? É bom lembrar que a calçada central da Avenida Rio Grande do Sul, assim como a maioria das calçadas do centro da cidade – onde tem calçada – está igual há mais de 40 anos e que nem mesmo no centro comercial temos calçadas uniformes, cada um fez a sua, do jeito que achou melhor.

– 11 Cultura. Temos algo para oferecer? Temos um teatro em construção que deve ser concluído até o final do atual governo, mas e o resto?

– 12 Hotelaria. Temos acomodações para sediar eventos de porte? Também é bom lembrar que temos um hotel em construção, mas longe de estar concluído.

A intenção não é desfazer a linda cidade de Marechal Cândido Rondon e nem criticar o atual governo. Mas é certo que essas questões fazem parte da oferta de qualidade de vida de um município. E não há dúvida que estamos carentes. Tivemos grandes conquistas, é correto, mas ainda temos enormes demandas que precisam ser priorizadas se quisermos mesmo ter qualidade de vida, não no papel, mas, de fato, na prática.

Não podemos tapar os olhos diante de uma pesquisa que certamente não olhou direito grande parte dos nossos problemas.

 

* O autor é jornalista e diretor do Jornal O Presente

arno@opresente.com.br

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