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Dom João Carlos Seneme

“É preciso alegrar-se porque esse seu irmão estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi encontrado”

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A reflexão deste domingo (15) vem do capítulo 15 do Evangelho de São Lucas. Ele é o coração de todo o Evangelho porque contém as parábolas da misericórdia: a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido. Jesus apresenta o Pai como alguém que cuida, perdoa, tem paciência e se alegra com as pessoas que reencontram o sentido da vida. Deus é amigo da vida.

Jesus relata as parábolas para defender seu modo de agir em relação aos pecadores. Ele revela a alegria de Deus em perdoar os pecadores. O que está em jogo é o modo de Jesus apresentar Deus e a religião. Jesus apresenta situações humanas, as parábolas, que refletem a realidade do dia a dia. Porém elas têm um lado absurdo porque contradizem o modo de agir de muitas pessoas. O verdadeiro pastor não deixa 99 ovelhas no deserto para ir atrás de uma que se perdeu; a mulher pobre não pode fazer festa com as amigas porque encontrou uma moeda; um pai não dá ao filho mais novo uma herança para gastar como quiser.

Na sua atitude e no seu ensinamento, Jesus quer mostrar a atitude do Pai, o grande protagonista das parábolas: ele é o pastor que busca até encontrar aquela única ovelha que se perdeu; é a mulher que varre a casa até encontrar a moeda; é o pai cujo amor não desanima e aguarda todos os dias o retorno do filho perdido.

Por isso são chamadas de parábolas da misericórdia, porque elas revelam o amor gratuito e sem medidas do Pai. Em todas elas está presente a manifestação da alegria. Deus se alegra em encontrar o que estava perdido. Na parábola do pai bondoso a alegria transborda e se torna festa: traje de luxo, anel no dedo, calçado, novilho gordo. “É preciso alegrar-se porque esse seu irmão estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi encontrado”. Deus fará de tudo para trazer de volta o pecador perdido.

A atitude do irmão mais velho chama a atenção pelo coração duro, incapaz de perdoar e participar da festa. Ele não consegue experimentar a alegria de ser filho. Considera o pai um ditador, que só sabe usufruir de seu trabalho. É alguém que segue estritamente a lei.

A parábola é dirigida aos fariseus e doutores da lei. Eles são os “irmãos mais velhos” que não admitem a fragilidade e o pecado dos outros e também não aceitam o modo com que Jesus apresenta a imagem de Deus misericordioso e compassivo.

Cada um de nós também é contemplado nestas parábolas, principalmente dentro de nossas comunidades. Somos capazes de reconhecer a nossa própria fraqueza e miséria, como fez o filho perdido? Somos capazes de esperar com paciência que o outro reconheça seu erro e retorne como fez o pai? Ou somos como o irmão mais velho, que segue as regras, tem medo do Pai e é incapaz de ter um coração misericordioso, de se alegrar com a volta do irmão que errou?

Esta é a mensagem que Jesus quer nos deixar ontem como hoje. Deus não age como um rei, senhor ou juiz. Jesus o experimenta como um pai incrivelmente bom, que respeita as escolhas de seus filhos, mesmo que sejam erradas. Ele sempre espera pacientemente o retorno e acolhe com um abraço carinhoso e restaurador e sempre faz uma festa. Deste encontro nasceram verdadeiras conversões que modificaram a história da humanidade.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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