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Elio Migliorança

ELE e EU, INDIGNADOS

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Recentes fatos no Brasil tiveram o poder de mexer com os brios de duas pessoas especiais, de forma a deixá-las indignadas. Estas pessoas são o presidente Lula e eu. O presidente é especial porque, eleito e reeleito pela maioria, tem feito algumas coisas notáveis no país. Eu sou especial para minha família e talvez para os meus colegas de trabalho, amigos e parte dos meus alunos, pois a “unanimidade é burra”, portanto, sei que para muitos deles não sou especial. Ficamos indignados por motivos opostos. Ele porque na última semana os jornais estamparam manchetes dizendo que um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) detectou sérios problemas em dezenas de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), tão acelerado que parte das obras não saíram do papel. Os problemas vão desde superfaturamento, desvio de recursos e obras paralisadas, embora o dinheiro já tenha sido liberado.
Na verdade, o presidente queria que o TCU fizesse o papel de cordeirinho, se acovardasse, encolhesse o “rabo” e não ficasse aí fuçando e denunciando as “maracutaias”, esquecendo-se que é para isso que os ministros são pagos. Que feio o presidente ficar defendendo ladrões, corruptos, quadrilhas que se organizam para roubar nossos suados impostos.
Eu fiquei indignado porque estou do outro lado do balcão, sou da massa dos pagantes, aqueles que precisam suar a camisa para sustentar esta e outros tipos de sacanagens que, via de regra, acabam sempre com a absolvição dos culpados. Mas agora todos os problemas nacionais estão resolvidos. Conquistamos as Olimpíadas de 2016. Acho que preciso de um cardiologista urgente. Estou preocupado porque em nenhum momento o coração palpitou mais forte na expectativa do anúncio da sede das Olimpíadas. O povão que estava na rua pulando carnaval vai ter o seu circo. Mas a verdadeira comemoração estava nos escritórios das empresas que vão ganhar bilhões para construir uma babilônia, mostrar uma realidade que não é a nossa, tirar recursos de outras áreas mais urgentes como saúde, educação e saneamento básico, que estão gerando morte entre os desassistidos do Brasil. Sim, porque se fizermos uma comparação, os números assustam.
Para os jogos Pan-Americanos projetaram-se gastos de R$ 400 milhões, no entanto foram gastos R$ 3 bilhões, ou seja, 7,5 vezes mais. Para os jogos olímpicos estão previstos gastos de R$ 25 bilhões e, seguindo a mesma proporção, o custo deve chegar aos R$ 180 bilhões. Nada contra se os custos fossem pagos pelos patrocinadores, que são os que obtêm lucro com o evento. O governo não possui estádios, portanto isso é um problema das federações. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que há muito tempo passou a ser uma empresa do grupo Ricardo Teixeira, pois o “cara” é presidente vitalício da entidade, que organize e faça acontecer, mas não com nosso dinheiro.
Copa do Mundo? Legal, mas em Curitiba, por exemplo, passada a euforia da escolha da cidade, ninguém sabe de onde virão os recursos para as obras que são urgentes e deviam ser logo iniciadas. As empreiteiras devem estar felicíssimas. E o povo terá pão e circo. Ferrado, de barriga vazia, mas feliz na gritaria da arquibancada.

* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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