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Tarcísio Vanderlinde

Elias, o perturbador

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“E sucedeu que, vendo Acabe a Elias, disse-lhe: És tu o perturbador de Israel?” (1Reis)

 

Elias não foi o único profeta perturbador em Israel. Profetas perturbadores costumavam sofrer rejeição, muitas vezes no seio do seu próprio círculo social íntimo. Assim também foi com Jesus, quando, numa sinagoga em Nazaré, citou o profeta Isaias referindo-se ao propósito de sua missão na Terra.

Os peregrinos que chegam hoje a Nazaré costumam visitar o monte do Precipício, lugar onde os conterrâneos de Jesus pretendiam empurrá-lo barranco abaixo por causa do episódio da sinagoga.

Flávio Josefo segue em paralelo muitas narrativas que constam nos textos bíblicos. Os embates do profeta Elias com o ambicioso rei Acabe (935-852 a.C.) e a perseguição levada a efeito contra ele por Jezabel podem ser considerados exemplos.

Acabe é considerado por Josefo um dos dirigentes mais incapazes que reina em Israel. Seu governo era assessorado por um grupo de profetas de confiança que tinha a atribuição de profetizar coisas boas a ele. Profetas perturbadores não eram bem-vindos.

No episódio da guerra que Acabe empreendeu contra Adade, rei da Síria, Josefo destaca a presença de um profeta perturbador de nome Miquéias e, que vez por outra, aparecia para “chatear” o rei. Acabe o odiava e o havia feito meter numa prisão, “pois só lhe profetizava o mal e lhe tinha dado certeza de que ele seria vencido e morto pelo rei da Síria”.

A perturbação que Acabe sofreu do profeta Elias aconteceu após o episódio em que Jezabel articulou de forma fraudulenta a morte do justo Nabote, proprietário de uma vinha que era cobiçada pelo rei.

Josefo conta que o rei andava depressivo por não ter conseguido negociar a vinha, mas assim que ficou sabendo por Jezabel da morte de Nabote, “ficou tão contente que levantou-se da cama e para lá se dirigiu no mesmo instante”. Para seu desgosto, se deparou com Elias.

Para atenuar a vergonha da censura que inevitavelmente o profeta lhe faria, Acabe confessou ter usurpado a propriedade, mas procurou se isentar da cumplicidade do crime praticado por Jezabel contra Nabote. A desculpa não pegou.

Em resposta, o profeta revelou que o sangue do rei e o de Jezabel seriam derramados no mesmo lugar onde fizeram correr o sangue de Nabote. Além disso, toda a descendência do rei seria exterminada como castigo de um outro grande crime, a saber: “o de violar a lei de Deus, fazendo morrer um cidadão contra toda a espécie de justiça”.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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