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Tarcísio Vanderlinde

Em tempos de distanciamento social

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Foi curiosamente contemporâneo de Jesus Cristo. Viveu e atuou em Roma. Seus ensinos parecem oferecer um chapéu sob medida à sociedade volúvel do início do século XXI momentaneamente abalada por um ser microscópico. Trata-se de Sêneca.

Para os que se iludem, por exemplo, com a possibilidade de prolongar a juventude indefinidamente ele diz: “A vida pode até ser breve, mas o que a prolonga é a arte do seu uso, (…) ela é suficiente extensa para quem dela sabe dispor de modo adequado”.

Para ele, seria uma atitude néscia deixar para pensar na mortalidade e atender bons conselhos apenas em idade avançada, pois sempre existiria o risco de se viver sem atingir a idade desejada: “Quanto de néscio nesse esquecimento de nossa mortalidade, ao deferir para os cinquenta ou sessenta anos os bons conselhos e querer situar o começo da vida onde poucos logram chegar”.

Por outro lado, viver também seria muito diferente do que envelhecer ou durar bastante, sendo que existiria uma grande diferença entre o que chama de “balançar” ou “navegar”: “Pensas, por ventura, que navega muito aquele de quem uma violenta tempestade assalta o barco, deixando-o à deriva, para um lado e para outro, ao sabor de ventanias enfurecidas? Ele não navega muito. Só balança bastante”.

Para Sêneca, os prazeres da luxúria comprometem a arte de viver. O indivíduo pode se alienar do exercício da vida ao deixar escravizar-se pela luxúria. Na visão do filósofo este não seria um privilegiado em repouso. Já seria de fato um morto.

A sabedoria é algo desejável a ser adquirida independente do tempo que se vive. O propósito de aproveitar a vida para adquirir sabedoria é considerada uma atitude louvável para Sêneca. É muito melhor do que perseguir honrarias ou tentar se eternizar em monumentos: “Honrarias, monumentos, tudo que impõem os decretos e que fundamenta laboriosa diligência, de repente, desmorona. Um longo lapso de tempo desmonta-se e esvai, porém nenhum dano pode ser causado àquele que se consagrou à sabedoria”.

E, por fim, um último ensino para indivíduos que não viveram, mas apenas ficaram velhos e têm pouca coisa a compartilhar a não ser falar de suas doenças e das doenças dos outros: “Há, com efeito, certas doenças que se curam quando ignoradas pelos enfermos. É que para muitos a causa da morte foi tomar conhecimento da própria enfermidade”.

EM TEMPO: Sêneca NÃO ORIENTA que sejamos descuidados com a saúde! SE FOR POSSÍVEL, FIQUE EM CASA!

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

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