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Dom João Carlos Seneme

Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso

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Neste último domingo do Ano Litúrgico, a Igreja nos convida a celebrar Jesus Cristo como Rei do universo; chama-nos a dirigir o olhar em direção ao futuro, ou melhor em profundidade, para a meta última da história, que será o reino definitivo e eterno de Cristo. Estava com o Pai, no início, quando o mundo foi criado, e manifestará plenamente o seu domínio no fim dos tempos, quando julgar a humanidade e o seu julgamento será movido pelo amor. Hoje também encerramos o Ano da Fé onde fomos convidados a refletir e dar sentido a nossa pertença a Cristo e à Igreja. No texto evangélico deste domingo, a humanidade de Jesus é provada até o fim. Pregado na cruz, vítima de zombarias e insultos, revela a verdadeira dimensão do seu reinado. Ele é Rei do Reino dos Céus e seu poder é o serviço. Jesus, o Filho do Homem, o juiz supremo das nossas vidas, quis assumir o rosto daqueles que têm fome e sede, dos estrangeiros, dos que estão nus, doentes ou presos… enfim, de todas as pessoas que sofrem ou são marginalizadas. E, por conseguinte, o comportamento que tivermos com eles será considerado o modo como nos comportamos com o próprio Jesus. Não vejamos nisto uma mera fórmula literária, nem uma simples imagem; toda a vida de Jesus é uma ilustração disso mesmo. Ele, o Filho de Deus, tornou-se homem, partilhou a nossa vida mesmo nos detalhes mais concretos, fazendo-se servo do mais pequenino dos seus irmãos. Ele que não tinha onde repousar a cabeça, seria condenado a morrer numa cruz. Este é o Rei que celebramos!Isto pode, sem dúvida, parecer-nos desconcertante! Ainda hoje, como há mais 2000 anos, habituados a ver os sinais da realeza no sucesso, na força, no dinheiro ou no poder, temos dificuldade em aceitar um tal rei, um rei que se faz servo dos mais pequeninos, dos mais humildes; um rei cujo trono é uma cruz. E todavia – como ensinam as Escrituras – é assim que se manifesta a glória de Cristo; é na humildade da sua vida terrena que Ele encontra o poder de julgar o mundo. Para Ele, reinar é servir! E aquilo que nos pede é segui-lo por este caminho: servir, estar atento ao clamor do pobre, do fraco, do marginalizado. A pessoa batizada sabe que a sua decisão de seguir Cristo pode acarretar-lhe grandes sacrifícios, às vezes até mesmo o da própria vida. Mas, como nos recordou São Paulo, Cristo venceu a morte e arrasta-nos atrás de Si na sua ressurreição; introduz-nos num mundo novo, um mundo de liberdade e felicidade. Ainda hoje temos muitos vínculos e comportamentos que nos impedem de viver livres e felizes. Deixemos que Cristo nos liberte deste mundo velho. A nossa fé n’Ele, vencedor de todos os nossos medos e misérias, faz-nos entrar num mundo novo: um mundo onde a justiça e a verdade não são objeto de mentira, um mundo de liberdade interior e de paz conosco, com os outros e com Deus. Tal é o dom que Deus nos fez no nosso Batismo.Neste dia de festa, compartilhamos a nossa alegria pelo domínio de Cristo Rei sobre toda a terra. É Ele que remove tudo o que dificulta a reconciliação, a justiça e a paz. Sabemos que a verdadeira realeza não consiste numa demonstração de força, mas na humildade do serviço; nem na opressão dos fracos, mas na capacidade de protegê-los e conduzi-los à vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Cristo reina a partir da Cruz e, com os seus braços abertos, abraça todos os povos da terra, atraindo-os para a unidade. Pela Cruz, abate os muros da divisão, reconcilia-nos uns com os outros e com o Pai. De modo especial peço a oração de todos pela nossa querida Diocese que está sob a proteção de Cristo Rei, que não teve medo de ser humano até o fim, mantendo-se firme no caminho trilhado ao longo da vida. Que seu exemplo nos inspire a criar entre nós laços fortes de expressão de fraternidade onde nossos projetos e comunidades revelem que seguimos de perto este Rei. 
* O autor é bispo da Diocese de Toledo
revistacristorei@diocesetoledo.org

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