Fale com a gente

Dom João Carlos Seneme

Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra

Publicado

em

Neste domingo (23) celebramos a Solenidade de Pentecostes. Dia em que Jesus envia em missão os apóstolos reunidos em seu nome. Jesus entra onde eles estão, deseja-lhes a paz, depois mostra-lhes suas mãos e o lado e sopra sobre eles o Espírito Santo e os envia em missão para perdoar os pecados e anunciar o caminho da salvação que se encontra no seguimento de Jesus na vida em comunidade como Igreja.

Ao descrever o evento de Pentecostes, os Atos dos Apóstolos utilizam categorias presentes na Bíblia quando revelam a manifestação de Deus: barulho, vento, fogo. Não pretendem relatar como aconteceu o dia de Pentecostes, acentuam que foi um evento muito importante já iniciado no dia da Páscoa, no dia da Ascensão e que é confirmado hoje no dia de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa. Hoje a Páscoa de Jesus tem a sua coroação. Porque ressurreição, ascensão e vinda do Espírito Santo constituem um único acontecimento: o mistério de nossa salvação, a renovação da humanidade e de todo o universo.

O mesmo Espírito que pousou sobre Jesus na vida terrena agora é concedido a todos os fiéis. O Espírito desceu sobre o Filho de Deus que se tornou Filho do homem. Em Jesus o Espírito veio morar nos seres humanos para que conheçam a vontade do Pai e se tornem criaturas novas (Santo Irineu).

A palavra de Deus nos introduz neste mistério de novidade e fecundidade mostrando como Pentecostes é um evento central para nos compreender e compreender a Igreja na qual somos membros vivos.

Pentecostes testemunha que onde o Espírito de Deus desce nasce uma verdadeira e autêntica comunhão. São Lucas exprime esta comunhão afirmando: “todos estavam juntos no mesmo lugar”; “todos ficaram cheios do Espírito Santo”. São Paulo acentua que “há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito”; “há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor”; “há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos”.

Hoje podemos dizer que ser Igreja é estar em comunhão de Espírito. Não fazemos parte de um sistema que vive sem o mistério, necessidade de funcionários, burocracia, as pessoas podem ser substituídas. A Igreja, ao contrário, é uma comunidade onde Pedro, Paulo e Barnabé são pessoas vivas, que buscam, lutam, testemunham na ótica do respeito recíproco e da acolhida mútua.

Na Igreja os habitantes da Mesopotâmia, Capadócia, Egito, Roma e Toledo são chamados a se unir em solidariedade, sendo que os princípios de raça, prestígio pessoal e carreira não constituem título de distinção e muito menos de desprezo, mas de ajuda recíproca, porque a cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo (1Cor 12,7-13). O fundamento da Igreja, corpo de Cristo, é estar em comunhão de Espírito em nome do Senhor Jesus.

Onde habita o Espírito, as forças do caos e do pecado são vencidas. No evangelho São João relata que Jesus soprou sobre os discípulos dizendo: Recebei o Espírito Santo. Este gesto faz referência ao sopro de Deus sobre Adão dando-lhe o dom da vida: Se tirais o seu respiro, eles perecem e voltam para o pó de onde vieram. Enviais o vosso espírito e renascem e da terra toda a face renovais (Sl 104).

É o Espírito que atua a presença de Cristo na Igreja. O teólogo oriental Inácio Hazim pronunciou a respeito palavras inspiradoras: “Sem o Espírito Santo, Deus está distante, Jesus Cristo fica no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja, uma simples organização, a autoridade, um despotismo, a missão, uma propaganda, o culto, uma simples recordação, o agir, uma moral de escravos. No Espírito, porém, e em sua sinergia indissociável, o cosmo se levanta e geme até que dê à luz o Reino, o homem luta contra a carne, Cristo Ressuscitado está aqui presente, o Evangelho é poder de vida, a Igreja significa a comunhão trinitária, a autoridade é um serviço libertador, a missão, um novo Pentecostes, a liturgia, um memorial e uma antecipação, o agir humano é divinizado”.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente