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Tarcísio Vanderlinde

Epafrodito, o amigo culto

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Diferente do personagem bíblico que surge com o mesmo nome, e que foi líder na igreja cristã primitiva, Epafrodito aparece na obra de Flávio Josefo como uma figura pouco conhecida. Epafrodito se identifica como um amigo discreto, culto e confiável a quem o autor endereçou a justificativa dos seus escritos sobre a história dos judeus.

Em breve defesa ao amigo, Josefo denuncia escritores como Ápio e Molon por inventar imposturas e calúnias contra os judeus, algo que lembra o “trabalho” revisionista de alguns historiadores no tempo presente.

Infelizmente a temática revisionista antissemita persiste. A discussão em torno do holocausto judeu ocorrido durante o século XX, por exemplo, parece longe de ser concluída. Seguem alguns recortes da “carta defesa” de Josefo a Epafrodito:

“Penso ter cumprido plenamente o que tinha prometido, pois, contra o que dizem estes caluniadores, eu mostrei que nossa nação é muito antiga e que vários dos mais antigos historiadores fazem menção de nós em seus anais.

[…] Quanto as nossas leis, seria inútil estender-me mais a esse respeito, pois basta considerá-las para se ver logo que elas inspiram uma verdadeira piedade para com Deus e uma grande caridade para com os homens. […] Estamos sempre persuadidos de que Deus vê nossas ações e que nada acontece no mundo quer por sua ordem ou determinação.

[…] Digo com sinceridade que nenhum outro poderia dar tão bons conselhos e preceitos como nós. Que pode haver de mais louvável que, uma piedade constante, de mais justo do que obedecer as leis e de mais vantajoso, que viver numa perfeita união, sem que a adversidade nos afaste uns dos outros, nem a prosperidade nos torne insolentes?

[…] Se outros povos escreveram e observaram estas coisas antes de nós, considerá-lo-emos como nossos mestres e reconheceremos que muito lhes devemos. Mas se eles, ao contrário, receberam de nós e eu demonstrei, como penso, que nem um outro as pratica tão exatamente, que os ápios, os molons e todos os outros que sentem prazer em inventar contra nós tantas imposturas e calúnias, deixem de nos atacar”.

Josefo conclui o texto confiando a veracidade das narrativas sobre sua nação ao amigo e aos demais que desejam ser instruídos de fato: “Quanto a vós, virtuoso Epafrodito, que tendes tanto amor pela verdade, é que para vós e para aqueles que desejam como vós ser instruídos no que se refere à nossa nação que eu realizei este trabalho”.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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