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Elio Migliorança

Equilíbrio no fio da navalha

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Tentar equilibrar qualquer coisa sobre o fio de uma navalha é na prática uma missão impossível. Tão difícil quanto isso é conseguir entender e decifrar a complexidade que envolve as publicações das mensagens e conversas roubadas dos celulares de autoridades brasileiras dos três poderes da República.

O país está dividido entre os que condenam e os que absolvem. As posições tomadas pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ajudaram a colocar lenha na fogueira a tal ponto que se está discutindo mais este assunto do que futebol nas reuniões de família, trabalho e bate bola. Como todos os pagadores de impostos estão habilitados a palpitar, também quis participar desta conversa. Claro que nem todo mundo é um gênio. Mas, se você julgar um peixe por sua habilidade de escalar uma árvore, ele vai passar sua vida inteira acreditando que é estúpido. Embalado por esta afirmativa, atrevo-me a dizer que existe muito interesse em jogo por parte daqueles que defendem a ideia da publicação de todos os diálogos roubados daqueles celulares, sejam eles de quem forem.

A maior estrela vítima dos hackers foi o ministro Sérgio Moro, seguido de Deltan Dallagnol. Os mais exaltados defendem o direito da divulgação, enaltecendo a importância da imprensa para a democracia. Isso é verdade, a imprensa é fundamental para a manutenção das liberdades democráticas, pois todos os governos autoritários ou ditatoriais proíbem ou censuram os meios de comunicação. Contudo, é importante levar em conta a origem das informações.

Imaginemos que eu esteja vendendo um carro roubado por outra pessoa. Se eu invocar o direito do sigilo do meu fornecedor, ninguém poderá questionar minha venda. E se continuarmos nesta linha de raciocínio, podemos chegar a resultados absurdos. Sem defender nem acusar, mas tentando o equilíbrio, tão difícil no caso como o do fio da navalha, tenho a convicção de que a origem criminosa da invasão dos telefones deve ser levada em conta antes da divulgação pura e simples. Segundo, todos aqueles que defendem a divulgação deveriam abrir seus telefones pessoais ou de serviço e mostrar a todos que nunca cometeram qualquer deslize ou costuraram alguma malandragem. Terceiro, querer anular os processos que condenaram centenas de salafrários do andar de cima só interessa à criminalidade e aos assaltantes do erário público. Afinal, todos os processos sentenciados pelo então juiz Sérgio Moro foram confirmados nas instâncias superiores, e algumas penas até ampliadas.

A Operação Lava Jato foi, sem dúvida, um divisor de águas na história do combate à corrupção, e criou ciúmes entre vários ministros do STF, razão pela qual existe uma pressão contrária vinda de cima, mas considerando os resultados financeiros e os esquemas de corrupção que foram desmontados, a Lava Jato ganhou este jogo de goleada.

Outra medida pra lá de suspeita foi a suspensão pelo ministro Dias Toffoli de todas as investigações que se utilizam de informações do Coaf, órgão da Receita Federal que controla as movimentações financeiras. Quem tem medo de ser fiscalizado é porque está fazendo algo ilícito. Quem ganha com essa confusão são os criminosos tamanho GGG-plus que montaram mega esquemas de corrupção e embolsaram milhões. Apesar de tudo, ainda acredito no futuro deste país.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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