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Editorial

Esse “filho” não é meu

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Ainda não está nada decidido finalmente, mas, possivelmente, quem passar pelas principais rodovias do Paraná a partir do fim de novembro pode ficar cerca de um ano sem pagar pedágio. Calma. Não é uma fake news. Vamos às explicações.

Os atuais contratos de concessão das rodovias do Paraná terminam em 27 de novembro. Depois disso, novas concessionárias começariam a explorar as rodovias e a fazer as cobranças de pedágio com preços teoricamente mais baixos, mas esses contratos ainda são alvo de grandes polêmicas.

Agora, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) adiou para o último trimestre de 2022 a implantação do que está sendo chamado de novo modelo. Ou seja: teoricamente, até uma nova definição, a partir de 28 de novembro as catracas estão liberadas em todo o Paraná.

Antes de “comemorar o benefício”, algumas questões precisam ser respondidas. Se a decisão for mantida, é preciso saber quem vai cuidar das rodovias, fazer a poda das plantas, a limpeza das vias, consertar as placas danificadas, etc. Naturalmente seria o governo federal no caso das BR’s e o estadual no caso das PR’s. Em outro cenário, é preciso saber se essa parada não resultará em custos adicionais posteriormente, quando os novos valores começarem a ser cobrados. Entre outras questões.

A questão do pedágio é desgastante. Há um longo, tortuoso e difícil caminho para chegar até aqui e mesmo assim os atores públicos e privados não chegam a um acordo, a um senso comum. Pudera, os atores públicos, ou seja, consumidores, empresários, turistas ou quem quer que passe pelas rodovias estão pagando os pedágios mais caros do Brasil há 25 anos, com mínimos benefícios, sendo que algumas rodovias até hoje são pistas simples.

Por isso mesmo essa questão precisa ser amplamente debatida, discutida, para garantir o máximo de benefícios aos consumidores, para que os motoristas paguem um preço justo, sem esquecer da importância dos lucros para as concessionárias. E parece que vai ter mais tempo para colocar a pauta na mesa.

Deixar de pagar pedágio por um ano, sem prejuízos à trafegabilidade e à segurança, parece ser positivo, mas esconde claramente o receio do governo federal e do governo estadual serem taxados como os pais “do bebê”, ou seja, do novo modelo de pedágio, às vésperas das eleições.

Tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o governador Ratinho Junior sabem que essa é uma medida extremamente antipopular, capaz de tirar votos, capaz, inclusive, de inviabilizar uma reeleição.

A decisão foi da ANTT, mas pareceu bem conveniente aos dois possíveis e prováveis candidatos ao segundo mandato. É como se dissessem, “esse filho não é meu”. Mas, nobres leitores e leitoras, esse filho vai nascer, independente de quem seja o pai ou a mãe. Não se iluda.

Aproveitemos enquanto é tempo, mas sem ilusões. O filho pode ser de quem quiser, o certo mesmo é que é a gente que cria.

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